quarta-feira, 27 de outubro de 2010

HAI, TARDE KAI...



MAR E TARDE CINZENTOS

QUISERA SOLTAR NUM SUSTO

ESSE GRITO DO PEITO



No site http://www.kakinet.com/caqui/dezmand.shtml é possível encontrar o que eles chamam de Os 10 mandamentos do haikai. Desobedeci a todos eles (coloquei título, 'rima', não segui a rigorosa métrica 5-7-5, ultrapassei o máximo de 17 sílabas, expliquei demais etc). Mas tem uma hora em que eles dizem que o dono do poemeto é o próprio autor. Desta regra eu abusei!
Se for seguir a métrica, pode ficar assim:



TARDE, MAR CINZENTO

QUISERA SOLTAR NUM GRITO

A PRESSÃO DO PEITO



domingo, 24 de outubro de 2010

22/10 - DIA DE ANTIPETER PAN


No extremo oposto à experiência de Peter Pan, alguns meninos são obrigados a crescer muito cedo. Seja porque lhe são impostos valores muito rígidos (não chorar, não demonstrar suas fraquezas, não pedir perdão, não hesitar nas decisões), seja porque a vida prematura e inesperadamente lhes impõe situações em que precisam vibrar numa potência maior do que aquela dos seus pequenos corações.
Quando se tornam adultos, é preciso um olhar de cumplicidade para ver amor em seus gestos aparentemente indiferentes, em suas constantes brincadeiras, em sua habilidade de fugir de uma conversa mais reflexiva sobre o que foram, são e serão. Esse olhar permite apenas ver que de suas raízes nascem flores como as tantas que eles guardam dentro de si, deixam de oferecer e não se permitem receber sequer no dia do seu aniversário. Queria ter dado uma dessas suas flores para um deles no dia em que fez mais um ano de vida adulta, para alegrar a sua criança, aquela que sempre merece um aconchego e não precisa ser mais do que é.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

VOCÊ JÁ LEU O GAMBOA?



Se a resposta é não, fique sabendo que este jornal não é novidade na terra chamada BOA NOVA. Faz 10 anos que ele existe. A boa nova é que em sua última edição ele teve uma matéria minha de título "O VIZINHO DO LADO MATOU MINHA SOLIDÃO". Agora que Nesmar Andrade não é mais assíduo convidado do Programa de Jô, se você quiser se inteirar melhor dos acontecimentos da terra dos Coqueiros, solicite o arquivo completo do Jornal em pdf ao seu editor, através do seu blog: www.dentrodarte.arteblog.com.br




sexta-feira, 1 de outubro de 2010

domingo, 12 de setembro de 2010

SEMPRE ACORDAR COM O PÉ DIREITO!


Quem me dera cumprir 20% das promessas feitas a mim mesma!

Acordar bem cedo, sair para admirar a vista dando passos esparramados sobre a grama e fazer os exercícios de yoga da Saudação ao Sol. Agradecer, agradecer muito! Pelo privilégio de ainda poder ver o mar de minha casa* e até acompanhar o piscar do Farol de Itapuã. Agradecer pela VIDA que caminha em minhas veias e fora delas, pela saúde e paz dos meus filhos e companheiro ainda dormindo, pelos irmãos/amigos e amigos/irmãos que fui amealando ao longo dos caminhos que percorri, pelos vizinhos com quem partilho a moradia. Pelas grandes lições que venho aprendendo, às vezes de modo muito doloroso, às vezes com uma leveza de quem já nasceu sabendo dos ensinamentos. Pela capacidade que me foi dada e pude, enfim fazer despertar, de expressar o que sinto tocando com meu olhar, mãos e sorriso as pessoas que amo, falando as "minhas verdades" e também exercitando o meu vínculo com a palavra escrita. Fui saudada por ele, nessa manhã de domingo ao saber que tive um texto selecionado para publicação no Concurso Adélia Prado.

Convido todos a um brinde de luz por tudo isso, visitando o blog
http://cronicaeliteratura.blogspot.com/2010/09/iv-concurso-cronica-e-literatura-premio.html

UM DIA COM O PÉ DIREITO, HOJE E SEMPRE!

* Depois de aprovado o novo PDDU, nosso vilage está sendo cercado por espigões e acompanho com desalento a cortina de cimento que está se fechando ao nosso redor!

domingo, 29 de agosto de 2010

NICA, DIMINUTIVO DE MOEDA PRECIOSA


Por razões quase óbvias, não sei ser uma mãe padrão. Sou totalmente diferente: pari dois filhos, sigo zelando por dezenas de crianças de diferentes idades, eduquei centenas de jovens e continuo desejando levar para casa outros nas esquinas da vida. Comecei a ser mãe logo cedo e isso faz com que a diferença de idade entre esses primeiros filhos e eu seja muito pequena. Em um dos casos ela é de apenas meses, no mais simbólico e religioso deles é de três anos – isso se deu ao batizar uma prima, quando sequer era capaz de carregá-la no colo. Adolescente, tornei-me madrinha de outro primo, o qual é hoje pai de dois filhos. Ensaiei os meus primeiros gestos maternais, enquanto vivia na casa da minha própria mãe e senti que uma menina magrinha, de cabelos escorridos e olhos pedintes, precisava de mais do que as importantes coisas que sua tia lhe assegurava: escola, refeições em horários certos, cuidados com a higiene pessoal, tratamento médico e dentário, vestidos bordados e companhias de sua idade para brincar. Ela necessitava de alguém para, ao ensaboar o seu corpo enquanto lhe dava banho, dar especial atenção às suas pequenas costelas à mostra no tórax e insistir repetidas vezes em prender seus cabelos lisos com franjinha sobre a testa. De uma pessoa para lhe perfumar e segurar sua mãozinha para sairem juntas a um passeio que apenas tivesse como objetivo saborear o acarajé vendido na esquina do Colégio Santanópolis. Queria alguém que risse ao notar o paradóxo de sua voz aguda e infantil, cantando em rítmo acelerado os versos da música e protesto do Maluco Beleza: “eu que não me sento no trono de um apartamento, com a boca escancarada cheia de dentes, esperando a morte chegaaaar...”

Mais tarde, provavelmente buscando seguir o meu exemplo, ela fez faculdade de Matemática. É tranquilizador saber que essa escolha lhe trouxe segurança profissional e lhe proporcionou grandes manifestações de afeto de seus alunos e colegas. Com a maturidade, além dos vários tecidos adiposos que arredondaram ainda mais as nossas curvas acentuadas, fomos aprendendo a controlar melhor nosso temperamento rebelde, agressividade desmedida e aquela antiga sensação de crianças esquecidas pelos pais na porta da escola. Como todas as mães, tenho minhas queixas em relação a essa filha que não me visita tanto como eu gostaria, se esquece do dia do meu aniversário e ainda continua me fazendo esperar por ela em ocasiões em que seria importante tê-la por perto. Apesar de tudo, como pequena moeda brilhante, ela acaba arrumando um jeito de se fazer presente e devo dizer que dentre os vários filhos que andei amealhando, a sua adoção teve um balanço extremamente positivo em termos de identificação, alegria e carinho mútuo.

domingo, 22 de agosto de 2010

DE SECAS, ORQUÍDEAS E ROSAS AO VENTO

"Minha infância de menina deu-me duas coisas que parecem negativas: silêncio e solidão. Essa foi sempre a área da minha vida. Área mágica onde os caleidoscópios inventaram fabulosos mundos geométricos, onde os relógios revelaram o segredo do seu mecanismo e as bonecas o jogo do seu olhar. Mais tarde, foi nessa área que os livros se abriram e deixaram sair suas realidades em combinação tão harmoniosa que até hoje não compreendo como se possa estabelecer uma separação entre esses dois tempo de vida, unidos como os fios de um pano."
Cecília Meireles

O fio que liga a infância à idade adulta pode trazer marcas tão profundas de sofrimento que parece impossível ver além de seu vermelho sangue encarnado, do seu gosto amargo de fel. Algumas pessoas se desdobram em lágrimas para molhar as rachaduras secas do solo que cobriu o seu pequeno coração mal regado. Penso que por muito tempo escolhi ser uma delas...
MAR ADENTRO
***************Elisa Lucinda
*
É preciso chorar.

As lágrimas são a chuva da gente,
nuvens do nosso tempo íntimo precisam desabar.
*

É preciso chorar, lágrimas são os rios do ser,
as cachoeiras da gente,
mudam nosso tempo simples, atualizam o nosso mar.

*
É preciso chorar,
é preciso à natureza copiar,
é preciso aliviar e molhar a seca do coração.
*
Se não chover vira sertão,
morre homem,
morre gado,
morre plantação.

*

Mas há outras que têm o dom de, na alquimia de uma cozinha interior, transformar sabores e cores e, em passes de mágica, fazer surgir dessa mistura delicioso prato de saborosa torta, cujo invólucro é uma massa constituida de poderosa força com recheio de fé e suave cobertura de alegria, com aroma especial capaz de contagiar até as mais inapetentes criaturas. Dedico essa postagem a uma amiga, Ana, que tem sobrenome de personagem de famoso romance de Raquel de Queiroz e à minha irmã que, tendo vivido a mesma realidade sertaneja que eu, também soube preparar alimento e não água.


4o. MOTIVO DA ROSA
************Cecília Meireles
*
Não te aflijas com a pétala que voa:
também é ser, deixar de ser assim.

Rosas verá, só de cinzas franzida,
mortas, intactas pelo teu jardim.

Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe, o vento vai falando de mim.

E por perder-me é que vão me lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

"BAUANI" OU COMMENT ALLEZ VOUS?


No final da tarde de ontem, fui visitar a Feira Étnica que compõe o I Seminário Nacional sobre Turismo Étnico-Afro, em seu primeiro dia, no Centro de Convenções da Bahia. Logo de cara, senti falta da programação do Seminário, porque um evento desse tripo não pode se limitar a expor produtos, deve ter como foco principal o apelo dos participantes a que participem dos debates para a valorização da cultura afro e a quebra dos preconceitos nessa terra, onde há o maior percentual de negros do Brasil. O pouco tempo que dispunha para me deleitar com a Feira me deixava um ansiosa: cerca de hora e meia. Fui deixada de carona por uma prima e seria resgatada pelo companheiro para a apresentação teatral do nosso filho em sua escola. Um borburinho de baianas chamou a minha atenção logo na entrada e eu me enfiei entre elas para ver do que se tratava, talvez motiva pela fome, na esperança de encontrar um tabuleiro de acarajé no seu centro: miragem de peregrino em meio a travessia desértica. Percebendo-me como estranha naquele ninho, disfarcei perguntando a uma das baianas mais jovens em que andar estava acontecendo a feira. Ela respondeu com sorriso largo: no 3o.! Agradeci escabriada e saí. Outro sorriso com dentes amplos e alvos em uma figura feminina que usava um torço na cabeça me recepcionou à entrada da Feira. Meu desejo de fazer um penteado afro nos cabelos quase se materializou logo na primeira barraca, mas, infelizmente, a artista responsável pelos penteados ainda estava se penteando e me pediu que retornasse mais tarde. Segui até a barraca em frente onde duas jovens simpaticíssimas me deram um livreto de título "Uma História de Amor com o Samba" e o cd Alvorada. Em seguida, tive que decidir entre uma variedade de belos e coloridos colares expostos pela nigeriana Bolaji. Foi ela quem me ensinou o termo "Bouani" em iorubá. Também trocamos as traduções dos nossos nomes. Com orgulho lhe disse que o meu deriva do latim e significa "verdade", cuja tradução é "verité en français". Devo confessar a vocês que a poesia do significado do seu nome me deixou um rago de inveja: "flor que traz alegria" - não recordo bem (seria um ato falho?). No estande da NAFRO PM perguntei ao expositor, quais eram as religiões de matriz Africana. Como supunha, ele me disse serem apenas o Candomblé e a Umbanda. Eu lhe perguntei se, só na África, havia outras religiões além dessas que justificasse o termo utilizado pela Polícia Militar da Bahia. Foi então que fme ensinou algo muito importante: cada reino, tribo ou grupo étnico africano, cultuava um Deus, um Orixá. O processo de escravidão, ao trazer pessoas de diferentes regiões do continente, fez com que aqui fosse gerada essa nova religiosidade politeísta, que no Candomblé reune: Iemanjá, Oxum, Ogum, Nanã, Iansã, Oxalá, Xangô e Oxóssi (o meu protetor). Isso significa que, durante o processo perverso de escravidão, os negros trazidos da África uniram-se para transformar o seu vínculo religioso incorporando entidades de vários grupos étnicos e ainda disfarçaram essa fé original, através do sincretismo religioso para poder preservar os laços com o Divino e lhes dar sustentação naquele momento histórico de extrema dificuldade. Essa é uma história muito bela de força na fé e resistência na adversidade que despertou o meu interesse em iniciar um estudo sobre o tema. Ele me sugeriu, além obviamente do CEAFRO (UFBA), a Casa do Benin, Casa de Angola e Casa da Nigéria como possíveis locais para cursos de aprofundamento. Prossegui a minha caminhada, agradecida.




Comprei dois brincos de Manuela que criou a um brinco com a bonequinha negra "Abayomi - encontro feliz" confeccionada em contas e com uma saia de casca de licuri. Manuela é aluna do curso de História da UFBa e me deixou muito feliz pela forma positiva como reagiu à minha ladainha de repulsa aos sacos plástico que vinha recebendo de cada uma das barracas. Ela me disse que no dia seguinte estaria com um saco de papel reciclado para embalar seus brincos, chaveiros e colares com a pequena Abayomi. Trocamos e-mails e eu fiquei de retornar para comprar outras peças. Como supunha, meu marido chegou sem que eu tivesse visitado todos os stands. Sentindo que o tempo passava rápido, não tomei o banho de folhas oferecido no Palácio de Oxossi, não pude apreciar os tecidos, blusas e vestidos em liquidação na Didara de Goya Lopes (quem sabe desta vez poderia comprar mais uma de suas peças?) e principalmente, saí com maior fome do que entrei mesmo tendo visto as barracas com comidinhas deliciosas como o beiju feito na hora que me deu água na boca!

Em meu percurso passei por vários outros locais como a Associação Protetora dos Desvalidos -SPD, a Arte´s Campemêlo, o Projeto Didá Alamojú II - Escola da Sabedoria, conheci e comprei o cd do artista de blues, Jairo Monteiro ,de título "Ouça Alto ". Recebi o catálogo produzido pelo SEBRAE sobre Economia Criativa, encomendei uma bata com uma artesã muito simpática, cujo contato perdi. Mas de todos os inúmeros encontros que tive, preciso destacar dois deles: o primeiro foi com uma pessoa que visitou a minha casa há cerca de 6 anos. Estivemos juntas apenas uma vez, mas como sou boa fisionomista, eu a reconheci. Ela estava expondo um trabalho muito interessante de reaproveitamento de vidro. A segunda surpresa foi encontrar Emília Matos. Já havia comprado suas peças nas feiras do Instituto Mauá. Emília trabalha com peças em tecido de muita criatividade e bom acabamento. Ela também me reconheceu e teve até memória das últimas peças que comprei em sua mão. Como estou fazendo um curso de economia solidária e também sou artesã, estamos aventando a possibilidade de nos unir em uma associação.


Oxalá saibamos usar a sabedoria e inteligência e criatividade expressa pelos nossos ancestrais negros, transformando as dificuldades em originais possibilidades!

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

FLOR AMOROSA


BOM DIA, FLOR AMOROSA. ONTEM FOI O SEU DIA!


Queria poder enviar, em todas as manhãs deste ano que se inicia, 50 exemplares de delicadas orquídeas imagéticas (como estas por mim colhidas) só para ELA, a leonina magestosa e guerreira, porém doce e generosa, que nasceu do mesmo útero que eu.*

*
Meu desejo é que o perfume dessas flores tenham a sutileza e a persistência para atravessar o Atlântico, pedir desculpas pelos nossos ancestrais nas proximidades da África e adentrar os solos lusitanos de modo muito leve e humilde. Não para dominar terras, apenas como conquistador de corações que estão ligados pelos laços do Incognossível, daquilo que nos permeia, dá sentido e substrato. Do que vem da Energia que faz de cada ato, uma matéria para novas descobertas e aventuras nessa viagem singular que é a vida.
*
**
PARABÉNS, MANA. ONTEM, HOJE E SEMPRE!

domingo, 1 de agosto de 2010

DOIS CONTERRÂNEOS


Como nos elos de uma corrente de papel de seda junina, também na vida os fatos vão se unindo em uma cadeia colorida. Vivi minha infância em uma rua com o nome do poeta dos escravos, que fica próximo ao antigo Museu Regional de Feira de Santana. Nele minha mãe adquiriu um quadro de Juraci Dórea. O sertão é o foco de sua temática e, há dois anos, quando recebi uma encomenda de 10 camisas com estampas artesanais, quis usar como inspiração as figuras dos quadros dele. Pensei em lhe pedir autorização, em lhe mostrar as blusas como uma homenagem ao seu belíssimo trabalho, mas não tinha seu contato. Há cerca de um ano, a convite da ONG Cipó Comunicações Interativas fui com Jina Carmen e a responsável pela Agência do Sertão, Sarah Carneiro, apresentar a poesia "Lua Nova Demais*" no Clube de Dirigentes Logistas em um evento de combate ao trabalho infantil. Só então. eu vi a cabra, o peixe, a lampião, o peixe e as casinhas que haviam sido transferidos através de linha e agulha dos 2 painéis originais de sua autoria. Meses depois, pesquisando baianos para compor o recital "Canto Quase Gregoriano", descubro surpresa que Juraci também é poeta. Como nao encontrei seus livros, pesquisei na net algumas de suas poesias e as levei para seleção nos ensaios da Escola Lucinda de Poesia Viva.
-
MÓBILE
......... ........Juraci Dórea
...
TANTA VIDA
E UMA CANCELA A BATER
DISTANTE.
-
AH, TANTA VIDA
E ESTE SILÊNCIO A MUTILAR
A NOITE.
-
TANTOS SONHOS
E UMA FACA A NOS CERCAR
NO PÁTIO.MÓBIL


No último
Arraiá Culturá do IFBA, organizei um concurso de quadras juninas. Para ilustrar as quadras que exporia como modelos, incentivando os estudantes a se increverem, decidi colocar desenhos do pintor. Ao buscar imagens, li que Carlos Pitta lhe havia dedicado um disco. Julgando serem poemas musicados, perguntei a Carlos Pitta que me disse ter apenas dedicado o cd ao amigo e ainda me forneceu o telefone de Dórea, dando-me a chance de falar com o homenageado, de descobrir que é amigo de uma prima minha, Iara Cunha, de lhe enviar o brinde da barraca e ainda ter o contato para uma possível entrevista para a Rádio IFBA.
**
-***Êta, corrente bonita e comprida!


* No youtube é possível ouvir o poema na voz de sua autora.

P.S.: Para quem curte um bom forró, segue o link Carlos Pitta. No meu São João, a belíssima gravação de "Guabiraba" é como pamonha, não pode faltar: www.myspace.com/carlospittaforro
Vale lembrar que ás 20h do dia 26/08, Pitta estará apresentando um Pocket Show (acústico), resultado de uma apresentação em Montreaux, no CUCA da UEFS.
**

terça-feira, 27 de julho de 2010

MAS E MAIS OS CANHÕES DE AMARALINA...

MARINHA -------------- ------ -------------------MARINHA

--- --Ruy Espinheira Filho ---- ------------Aleilton Fonseca

"Meus olhos testemunham-------- ---Piso na areia fina,
a invisibilidade das ondinas-----------Por onde caminhou o poeta,
a lenta morte dos arrecifes-------- ---E a praia de suas ondinas
e os canhões de Amaralina. -----------Me recebe de ondas abertas

Vou, a passo gnominado, ------------Meus olhos testemunharam
pisando a areia fina da praia. --------Os rastros dos versos na areia;
Pombas sobrevoam ----------------Nem uma pomba, só andorinhas
os canhões de Amaralina. -----------E o mar murmurando espumas

Parece a vida estar completa -------Os arrecifes esperam, sobrevivos,
na paz que o azul ensina. ------------Enquanto o sol suave declina:
A brisa ilude a vigilância ------------Tudo em volta me contempla...
dos canhões de Amaralina. ----------(e os canhões de amaralina?)

Nem a tua ausência, amor, pertuba----A brisa ilude a distância
esta alegria matutina -----------------Que no espelho se admira;
onde só há o claro e o suave... ---------O azul ignora a ferrugem
(E os canhões de Amaralina?) ---------Dos canhões de amaralina

Tudo está certo: mar, coqueiros, --Tudo está certo: mar, coqueiros,
aquela nuvem pequenina... --------Como o poeta nos ensina:
Mas - o que querem na paisagem - Mais ainda sobram na paisagem
os canhões de Amaralina?" ------- -Os canhões de amaralina

Meus sentidos foram dirigidos para essa conversa poética entre dois baianos por Paulo Andrade. Este baiano se exilou espontaneamente no estado do santo do seu nome, é professor, doutor em literatura e publicou o livro Torquato Neto - uma Poética de Estilhaços pela Fapesp em 2002.

terça-feira, 20 de julho de 2010

DIA DO AMIGO

No dia do amigo, sugiro brindarmos com o poema CÁLICE do
escritor baiano, natural de Rui Barbosa e professor da UEFS,
ANTÔNIO BRASILEIRO*:


CÁLICE

A vida não tem roteiros,
só velas que nos acenam
do mar.

Escuta, amiga,
o desfiar das horas:
elas te dirão é tua
é tua a vida.

Toma-a (como se toma
um cálice de rosas)
na mão.


*http://www.antoniomiranda.com.br/sobreoautor/sobre_autor_index.html
http://a-brasileiro.blogspot.com/

domingo, 18 de julho de 2010

CORREÇÕES NECESSÁRIAS


Ontem fui à Av. Joana Angélica comprar tinta para a impressora e aproveitei para dar uma olhada na espremida prateleira com o título POESIA da livraria LDM. Vasculhando entre os livros dos poetas, reconheci Mônica Menezes. Eu lhe lembrei que ela havia me dado uma cópia do poema "Carta de Amor" no Encontro Literário da UEFS. Disse-lhe que não conseguia compreendê-lo por me faltar conhecimento (nunca ouvira falar em Dora Diamant). Contei também que tinha tentado localizar o seu endereço eletrônico (não por Ângela Vilma) por Nívea Vasconcellos.

Poucos minutos depois, bem contente com a lembrança, me dirigi a ela, que já estava acompanhada de Mayrant Gallo, e lhe perguntei: "Mônica, é seu o poema da Mangueira?" Ele respondeu: "A famosa mangueira! Você sabia que Mônica vai lançar um livro?" "Ela me disse", respondi, entusiasmada em continuar a conversa com a interlocutora que, timidamente, desviara o rosto, enquanto eu falava os seus versos "não tive barbies, não tive... a mangueira me deu tudo. E eu nunca soube ser muito infeliz". Relatei que nesse 8 de março, selecionei poemas de mulheres baianas para divulgar, entre os quais estavam o seu "A HERANÇA" e "A FOTOGRAFIA" que Ângela Vilma havia dedicado à sua mãe "a blusa era vermelha, ela sabia..". A fotografia era em P&B, mas a memória de sua dona era colorida.

Esqueci de dizer a Mayrant que era engraçado ver Mônica assim encabulada, porque, na verdade, era eu quem estava nervosa como uma colegial de 15 anos, ao dar uma de tiete aos 51. Não lhe falei também que "O NARRADOR" é o seu(meu) poema favorito. Isso porque, nos ensaios que fazemos da Escola de Poesia, os poemas passam a ser nossos. O autor, como índio, perde a sua posse. E nós, os navegantes colonizadores, sem a sua autorização, os divulgamos em outras paragens, fazemos escambo, barganhas e até chantagem sentimental pelo direito de falar os poemas. Seu dono é quem acha que o descobriu, o primeiro a ver o brilho do diamante em meio ao cascalho do vasto e desconhecido mundo dos livros.

Assim, faço as devidas correções, colocando os "meus" poemas preferidos dos poetas mencionados acima, além de convidar todos para o lançamento dos livros de Ângela Vilma e Mônica Menezes às 19h do dia 03 de agosto na Tom do Saber.

-.-.-
A FOTOGRAFIA*
Para Terezinha, minha mãe
Sentada na cadeira
As pernas cruzadas
Mãos pousadas na saia.
A blusa preta escondendo
A verdade da fotografia:
Era vermelha, ela sabia.
Ela sabia de tanta coisa!
(e nem sequer imaginava)
Seu sorriso acompanhava
O ritual da fotografia.
.-.
HERANÇA *
Para Maricelma
Há uma mangueira em minha vida
Não tive barbies, bicicletas
ou festas de aniversário
Só uma velha e frondosa mangueira.
A mangueira me deu tudo.
E eu nunca soube ser muito infeliz.
.-.
O NARRADOR*
As histórias que eu contava quando criança
Embora parecessem de outrem
Eram minhas: eu as inventava.
Inventava-as para mim
Para os que me rodeavam
Para os que me tinham em conta de louco.
De todas não me lembro uma
Embora toda me habitem.
Em todas estive, em todas morri.
.-.
* (Poemas extraídos do livro "CONCERTO LÍRICO A QUINZE VOZES - Uma Coletânea de Novos Poetas da Bahia, Salvador, Aboio Livre Edições, 2004)
-.-.-
ESCONDEDOURO DO AMOR -I**
O amor não está na estrela
que, ao cair, carrega o pedido sussurrado,
está no olhar que a percebe e espera.
O amor não está nas cartas
lançadas sobre mesas postas,
está na tensão de quem as ouve e deseja.
Búzios, números e datas
não contêm o amor,
só a esperança de encontrá-lo.
Mas, ninguém encontra o amor,
ele é (misteriosamente) despertado...
num momento de distração e abandono.
.-.
** (Poema extraído do livro ESCONDEDOUROS DO AMOR & OUTROS VERSOS SOB A ESPERA de Nívea Maria Vasconcellos, Feira de Santana, CDL, 2008)

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Ontem, católicos aos leões! Hoje, mulheres aos cães!


No Coliseu de Roma, há mais de 2000 anos, os católicos eram jogados aos leões como entretenimento ao público nas arquibancadas. No Brasil de hoje, a carne feminina é lançada como alimento aos cães no espetáculo hediondo do machismo nosso de cada dia. Sem originalidade para expressar tamanha indignação, faço minha as palavras de outros Homens:

"E assim caminha a humanidade,
com passos de forrmiga
e sem vontade...."

Lulu Santos
Vale ressaltar que as formigas formam uma sociedade extremamente produtiva e harmônica e com seus pequenos passos carregam pesos bem acima dos seus. Se caminhássemos proporcionalmente como elas, nossas sociedades estariam em outro estágio. No entanto,dotados de cérebros extremamente complexos, os homens é que parecem não sair do lugar primitivo de sempre...

"AVISO À PRAÇA"
Antônio Risério

O humano é um engano do humano.
Divide o humano em humano e desumano.
Sonho insano de se ver a salvo
De crivos e crises e crimes
Cravados no alvo.
Bobagem. Nenhum capitalismo é selvagem.
Puta não é cadela. Nem a vida, feroz.
O homem é o homem do homem.
Todos juntos e a uma só voz.
Humana é a sala de tortura,
A napalm, a navalha, a metralha no gueto
- a pele esfolada no porão.
Humana, humaníssima, a escravidão.
Humano é o arame farpado
O estripador branco, o estuprador preto,
Carndiru, Somália, Khmer, Bopal
O massacre na Praça da Paz Celestial.
Humana a fissão do átomo
Humana a fissura do FIM.

Não consta que

roseiras e gaivotas

ajam assim.



terça-feira, 6 de julho de 2010

MAIS UMA TRAVESSIA PARA HOMENAGEÁ-LA

CELINA*



Na batalha ao cair da tarde,
não viemos em um grande cavalo,
mas atravessaremos os muros da cidade
pra te dizer que és uma querida HELENA.



De pau oco com o corcel,
santinha, me faço de MARIA,
a prima e comadre de ISABEL.
Esperta, me disfarço em filha
e adentro o coração da família.




RITA, você sabe, não é fita,
nem dengo de CONCEIÇÃO,
essa ligação não se MEDE.
é forte, é PERPÉTUA!




* (Essa poesia foi feita para Celina Pimentel dos Santos nos seus 90 anos e foi postada na tarde de sua missa de 7o. dia. Dentre as qualidades de D. Celina destacavam-se a autenticidade, a liberdade de pensamento e a sinceridade em expô-los. Neste texto eu me refiro àqueles que lhe eram mais caros, seus sobrinhos e filhas: Perpétua, Arquimedes, Conceição, Rita, Maria Clementina, Helena Maria e, minha comadre, Isabel)

quinta-feira, 24 de junho de 2010

10 ANOS DO POUSO DA PALAVRA


Cumprindo promessa feita mais a mim do que ao poeta, enfrentamos a estrada em véspera de festejos de São João rumo a Cachoeira para o Aniversário de 10 anos do Pouso da Palavra. Engarrafamentos na estrada fizeram com que nosso percurso se alongasse por 2 horas. Depois de nos alojarmos na bela Pousada do Convento, uma construção do século XVII, contígua à uma igreja cujos quartos com largos corredores ficam voltados para um pátio quadrado com um amplo jardim. Faz lembrar o Retiro de São Francisco, em Brotas, que, infelizmente, tem passado por dificuldades de manutenção.

A Pousada do Convento fica localizada bem próximo do casarão que abriga o Pouso da Palavra. Em seu andar superior, há uma sala, uma cozinha, alguns quartos, um banheiro e uma varanda. A
partir da varanda, a escada posterior dá acesso ao jardim gramado do quintal, cujos muros estão cobertos de heras, onde ficam as várias mesas do café literário. além de um barco de madeira encalhado na terra. Uma pequena varanda liga esse jardim à parte interna da casa, onde estão localizados o bar, o atelier e a galera de arte na entrada da construção. Toda a decoração é feita com móveis e objetos antigos selecionados, sendo que alguns estão expostos para venda.

Fomos recepcionados por Graça. Os longos nove anos de afastamento não impediram que nos recebesse com imenso carinho e alegria. Depois de nos mostrar o casarão e contar um pouco da história de sua reforma, começaram a chegar os convidados para a festa. Uma banda de sopro tocou os parabéns, depois de um pequeno coquetel, quando foram servidos acarajés, amendoins cozidos, ponches e o bolo de aniversário. Emocionada, Gal contou que o último pedido de Damário foi para que não deixasse o Pouso morrer. Justificou que há quinze dias, vasculhando as anotações pessoais dele, encontrou o planejamento dos 10 anos do espaço, o que a motivou a preparar tudo para realizar o seu desejo. Alguns poetas e amigos deram depoimento e leram poesias. A pedido dela, falei "Todo Risco", "O Ofício da Paixão" e "Poupar Nunca Mais", declarando estar feliz por não ter poupado esforços de estar ali naquele momento.

Fui convidada a organizar, em Setembro, um grande recital de Poesias lá no Pouso. No final da noite, conclui ser necessário fazemos mais programas como esse: inusitados, extravagantes... e românticos.

sábado, 19 de junho de 2010

EM ROMA: CIRCO! NO BRASIL: COPA!


Paradoxalmente, demos os primeiros passos em direção ao retorno à democracia com o pé direito. No ano de 1989, houve eleições diretas para presidente. Fosse mantido o calendário, não haveria mais coincidência entre Ano Eleitoral e Copa Mundial. Mas tinham que mudar isso, não é mesmo? Assim estamos vivendo mais um daqueles anos em que a torcida canarinho se une, enquanto fora do campo o jogo político corre solto.

Não lembro em que ano eu comprei uma camisa com a bandeira brasileira e não a usei para assistir a jogo algum. Mais tarde, nos dias de votação para os dois turnos em que escolhemos 0 presidente, os senadores e governadores, eu me vesti de verde e amarelo. Revoltada, também já apostei contra a nossa seleção. Perguntei quais os times adversários que tinham maiores chances e ganhei do meu tio uma caixa de chocolates na última vez em que a Itália se fez campeã.

Espremidos entre o maus políticos e os craques da bola, estão os trabalhadores do país. Os primeiros fazem suas alianças, fixam suas bancas dos caixas 2 e contratam marqueteiros para que maqueiem toda a sujeirada. Os segundos são considerados heróis nacionais, possuem retórica igualmente limitada, ganham salários ainda mais vultuosos e ainda recebem uma gratificação para jogarem direito. Entre eles o povo, bancando a farra de ambos, assiste aos jogos pela tv, sem receber bicho que lhe garanta habitação, saúde e educação de qualidade.

Sem muito idéia do que fazer, já comprei a bandeirinha para o carro. Devem imaginar quando vou usá-la. Precisei estabelecer um critério de seleção, dada a quantidade de ambulantes disputando as vendas na sinaleira: decidi pela mais magra das mulheres. É isso, meu povo, nossa gente continua nas ruas das cidades e nada lhes garante que em quatro anos será diferente!

segunda-feira, 14 de junho de 2010

QUEREM VER SIRLENE RIR?


Sirlene agradece aos que contribuiram com o valor inicial (R$500,00) para a construção de sua casa. Todos estão de parabéns pelo gesto de carinho e solidariedade demonstrado, mas alegre como ela, está a minha querida comadre Belzoca. Ela foi a felizarda ganhadora da colcha feita pela minha tia materna Ovídia Maria, usando a técnica chamada pelos mais simples de taco ou retalhos. Como orienta o marketing, eu usei a palavra "pathwork", querendo valorizar o produto e conseguir mais adeptos compradores dos bilhetes da rifa. O fato é que ela é muito linda e vai cair bem, tanto no friozinho de Salvador, quanto naquele um pouco mais intenso de Brasília, onde mora a premiada. O pé de cabra da história, acho que foi Ciro, porque seus padrinhos estão diretamente envolvidos no número sorteado: o seu padrinho Tadeu Coqueiro foi aquele que primeiro se dispôs a comprar dois números da rifa, mas foi a sua madrinha Isabel, quem, tendo comprado apenas um bilhete, vai ficar agazalhada debaixo da coberta colorida. Em tempo de São João, nada como saudar compadres.

APROVEITE BEM SEU PRESENTE, COMADRE ISABEL!

sábado, 12 de junho de 2010

DESCALÇO E DESCUBRO

E aqui estou, tocando.
Não sou poeta, e como a água, sigo o rio em vários compassos.

Procurei no céu a indicação de minha trajetória.
Não vi nada, porque a cegueira suicida apagou
o brilho
das estrelas entre nuvens.

Venho de longe. vou não sei para onde.
Procuro no ar os sinais do meus passos pelos caminhos.
Meu canto, velho irmão do vento, soa como um eco,

mas há quem o escute.

Vi os nossos rastros pelo chão sumindo..
.
Se
estou aqui cantando,
é que no
peito, os laços venceram, como, nos ombros, as sementes andavam.

Ah, não sei quem sou ou para onde vou.
E ainda assim, alguém gosta de mim.

(Texto baseado no Poema "Discurso" de Cecília Meireles: http://www.casadobruxo.com.br/poesia/c/discurso.htm )

quinta-feira, 3 de junho de 2010

DE VOLTA À FONTE

De sua fonte, recebi o meu umbigo enroscado com os umbigos dos meus dois irmãos. Como sempre, me fiz de forte, inventei piada, deixei o pacote com fotos dos nossos filhos, documentos, xingamentos e pequenos bilhetes da infância sobre a estante e fui viver a vida pacata como se nada me abalasse. Adiei a sessão em que desfaria o laço, abriria o despacho, passaria cada página do passado, revelando seus significados no fundo d'alma e buscando dar-lhes novos.


Mas o correio da vida continuou a me enviar seus recados até que a última gota do líquido amniótico fez cair o pacote sobre a minha cabeça. E a dor foi tão forte e funda que me pôs em posição fetal sobre a cama no escuro do quarto. Era só o desespero e a falta de coragem para respirar a vida. Não queria buscar ajuda de médico, anestésico, apenas negar o momento ou encontrar explicação racional em fato próximo que justificasse a letargia, o cansaço.



Bastou apenas um passo e outros braços deram força para transformar o pacote em presente resignificando cada um de seus itens. Não vou ser mais o baú da família: estou entregando a cada um, a parte que lhe cabe. As imagens das crianças foram incorporadas aos álbuns de família. Os umbigos serão enterrados em um ritual com os quatro elementos. Sobre a terra será plantado um girassol – a planta da vida - cuja semente será selecionada e doada por uma prima bióloga. Enquanto o vento marinho soprar sobre essa terra, o sol vai orientar o florescer dessa pequena muda que regarei com a água, para que purifique os caminhos de todos.

“Mas existe também a coincidência de amor. Os dias em que o amor transita e é nosso. Minhas palavras pousam o sol sobre tua pele. E o teu sorrido desmancha o frio e os segredos. É uma estação de brilho, tempo de dar atenção ao desfile de flores e alguns sons que agradam. Tempo de ativar as matérias de sonho. O calendário nos deu esta primavera e faz das noites, noites de inverno. Para que o frio convide os corpos ao aconchego. E que haja cores outonais, festival de folhas aos nossos pés. Cobertura de arte, no caminho que percorremos juntos. Existe o tempo em que o amor é fruto. A terra nos abriga. Existe o tempo em que o amor nos inventa. E pousa as mãos de vida sobre nós.”
(Pétalas, trecho extraído do livro FÁBULAS DELICADAS de Eliana Mara Chiossi -Ed. Escrituras)

quinta-feira, 27 de maio de 2010

PADRÃO 3S: É SEMELHANTE, É SUPERLATIVA, É SARAH


Ainda que dissonantes, somos todos semelhantes nesse mundo de meu Deus. Apesar disso, Narciso acha lindo e mergulha feliz nos espelhos d'água, quando se depara com gratas e suceSSivaS identidades. É o que acontece entre mim e essa menina, também feirense e aprendiz da arte de dizer versos. Em uníssono, nos lembramos do nome do antigo cinema que havia em frente à minha casa na rua Castro Alvez: Cine Timbira! Ele fechou suas portas sem que eu realizasse o sonho de comprar o bilhete mágico que me permitiria entrar em sua sala e viver as personagens da 7a. arte. Mais tarde, descobrimos que no Conservatório pertencente à sua família, tive a minha iniciação musical, aos 5 anos. Embora aos 50, depois de todos os concertos de piano realizados a partir dali, continue uma cantora frustrada, eu jamais quebrarei o vinculo estabelecido com a melodia das palavras e a necessidade de dar rítmo e compasso a tudo o que faço. Ela diz que quer ser igual a mim no futuro, eu penso que estaria muito além se pudesse voltar no tempo e me fosse concedido o desejo de ter seus 33 aninhos com tamanha sabedoria, disposição e alegria!

domingo, 23 de maio de 2010

ESCONDIDINHO


Li ontem uma matéria na revista "Vida Simples" sobre como incentivar as crianças a comerem alimentos saudáveis. Era introduzida com um relato do livro "O Amor nos Tempos do Cólera" de Gabriel Garcia Marquez. Embora já o tivesse lido duas vezes, não lembrava dessa passagem do romance. Nela, a personagem principal aceitava um pedido de casamento com a condição de que não fosse obrigada a comer berinjela. No entanto, jamais se casou com o pretendente e sim com um médico, a quem não julgava amar, ao constatar que poderia gostar de qualquer coisa quando, sem saber, havia se lambuzado com dois pratos de berinjelas amassadas em um macio purê.


Queria ter a revista em mãos para poder reproduzir o texto com as exatas palavras, mas a imagem da beringela escondida foi suficiente para me inspirar a retribuir um presente recebido de minha cunhada. Em meu último aniversário, ela teve a disposição e delicadeza de me escrever uma longa e linda carta, além de cultivar dois vasos com pequenas hortas contendo seis legumes plantados entre pedrinhas brancas, só para me dar algo feito por si, para mim. Certa de flechar o meu coração, ela tocou bem em sua aorta. Meu propósito é lhe presentear com convites para dois espetáculos,uma peça teatral e um show musical, que possam saciar, por algumas horas, a nossa fome de arte e beleza. Minha intenção é lhe mostrar que na vida simples, coisas como o afeto, a criatividade e a capacidade de cultivar a relação com o outro, nos aproximam imensamente. Escondidinho, não somos assim tão diferentes!






sábado, 22 de maio de 2010

A DAMÁRIO DACRUZ


POUPAR NUNCA MAIS

DAMÁRIO DACRUZ


NÃO POUPE GRANA
NÃO POUPE CAMA
NÃO POUPE GRAMA
NÃO POUPE FAMA


A VIDA SÓ CONFISCA
O QUE SOBRA SEM PROVEITO


A VIDA DÁ A OUTRO

O QUE É VOSSO POR DIREITO

De boas intenções, o inferno e a terra andam cheios.
De bons amigos, o céu e a terra vão ficando também...

Nesta tarde, as terras da cidade de Cachoeira recebem o corpo do amigo, jornalista, poeta e fotógrafo, Damário da Cruz. Muitos desses amigos partem tão de repente, que não dá para planejar nada em especial, ao pensar no fim. Outros, como ele, são acometidos por uma doença perversa que nos obriga a refletir que precisamos estar mais presentes, demonstrar companheirismo, revisitar a cumplicidade do passeio naquele barco, onde casais de namorados, em perfeito silêncio, prescrutavam o alvorecer dos pássaros em seus ninhais Pantaneiros. Aquele dia lhe inspirou a nos dar o seu "Tapa de Luva". Hoje, recebemos um tapa de arrependimentos: constato que não conheci o "Pouso da Palavra", não passamos o fim de semana planejado em Cachoeira com os outros casais amigos (Paulo e Belita, Armando e Denise), nosso grupo não apresentou o recital "Canto Quase Gregoriano" para que ele apreciasse as suas e outras poesias de poetas baianos etc.
Demos demasiado significado a algum detalhe da rotina diária e adiamos o encontro que ficará irremediavelmente inadiável. Como disse Inês, me fazendo lembrar Allan Poe, deixamos para depois o que será para NUNCA MAIS. Não por acaso, há algum tempo, eu vinha preparando o poema "POUPAR NUNCA MAIS". Não poderei mais falar esses versos para ele. O que seria uma homenagem ao vivo e a cores passou a ser um tributo virtual e de preto no branco. Assim, sem julgamentos apocalípticos, enquanto a mãe terra o recebe em seus braços, registro abaixo o saldo do balanço de nossas mesquinhas poupanças:




POUPEI DEMAIS


AO SEU AMIGO,
NÃO POUPE ABRAÇO
NÃO POUPE AFAGO
NÃO POUPE APREÇO
NÃO POUPE ABRIGO


A VIDA SEMPRE CONFISCA
O QUE NÃO FOI FEITO EM SEU PROVEITO.


A VIDA DELE É BEM CURTA,
ASSIM SERÁ A SUA. NÃO TEM JEITO.




quarta-feira, 5 de maio de 2010

MINHA SOGRA É UMA MÃE!


Um dia eu lhe perguntei: “D. Wanda, por que a senhora me deu o menos prendado dos seus filhos? Ao contrário dos outros, não é organizado, não conserta guarda-roupa, fechadura de porta, telefone quebrado, antena da televisão...” Ela me fitou com olhos miúdos por detrás das lentes dos seus óculos de grau e falou: “Quando você chegou, só tinha ele”.

Depois de algum tempo, quando lhe repeti a reclamação, ela completou a resposta com: “Mas ele tem outros talentos!” Da derradeira vez em que me aventurei a lhe fazer a pergunta, junto com um sorriso saíram de sua boca as palavras mágicas: “Ele faz poesias.” Ela era danada mesmo! Tinha me dado uma rasteira daquelas. Afinal, não seria eu a querer trocar a habilidade de lidar com o mundo encantado e melodioso das palavras, pelo manejo com parafusos, alicates e serrotes. Dada a situação, só me coube dizer: “Tudo bem, está perdoada”.

Além de ter a qualidade indispensável a toda boa mãe, de saber valorizar as singulares qualidades de cada um dos quatro filhos, minha sogra possui um jeito pacífico de lidar com as situações e um senso de observação capaz de avaliar qual a maior área de interesse de cada pessoa da família. Posso garantir isso, em especial, pelas suas três noras. Por quê? Porque sou a preferida, é claro!

sexta-feira, 30 de abril de 2010

EUFEMISMO - UMA ÓTIMA IDEIA!


Neste mês de abril, fiz 51 anos... Caiu justo numa terça-feira, dia do ensaio do grupo de poesia. Assim, para festejar, nos embriagamos com algumas das melhores coisas da vida: bons amigos, música e muita poesia. Existem várias formas de nos referirmos à data de nosso nascimento, ao registro da passagem de mais um ano em nossas vidas: acumulamos experiências, caminhamos inexoráveis para a morte, fazemos mais um aniversário, ganhamos mais um aninho, ficamos mais maduros, os anos vão pesando sobre nossos ombros, acendemos mais uma vela no nosso bolo etc. São muitas as expressões. A mais comum delas pode ser dita de duas maneiras antagônicas: ficamos mais velhos ou menos novos. Junto com a idade, cresce a vontade de atenuar o peso da ideia. Parece ser o meu caso. Deve ter sido essa a razão inconsciente que me fez lembrar do que tem acontecido com os carros nos últimos anos. O comércio proibiu o envelhecimento deles. Em um passe de mágica, desapareceram os carros usados do mercado. Todas a lojas passaram a comprar e vender carros seminovos! Então, é com extrema alegria que vou dar o meu "VIVA!" aos eufemismos e assinar essa postagem com um codinome muito atual e novinho em folha:
A SEMINOVA!