quinta-feira, 12 de agosto de 2010

"BAUANI" OU COMMENT ALLEZ VOUS?


No final da tarde de ontem, fui visitar a Feira Étnica que compõe o I Seminário Nacional sobre Turismo Étnico-Afro, em seu primeiro dia, no Centro de Convenções da Bahia. Logo de cara, senti falta da programação do Seminário, porque um evento desse tripo não pode se limitar a expor produtos, deve ter como foco principal o apelo dos participantes a que participem dos debates para a valorização da cultura afro e a quebra dos preconceitos nessa terra, onde há o maior percentual de negros do Brasil. O pouco tempo que dispunha para me deleitar com a Feira me deixava um ansiosa: cerca de hora e meia. Fui deixada de carona por uma prima e seria resgatada pelo companheiro para a apresentação teatral do nosso filho em sua escola. Um borburinho de baianas chamou a minha atenção logo na entrada e eu me enfiei entre elas para ver do que se tratava, talvez motiva pela fome, na esperança de encontrar um tabuleiro de acarajé no seu centro: miragem de peregrino em meio a travessia desértica. Percebendo-me como estranha naquele ninho, disfarcei perguntando a uma das baianas mais jovens em que andar estava acontecendo a feira. Ela respondeu com sorriso largo: no 3o.! Agradeci escabriada e saí. Outro sorriso com dentes amplos e alvos em uma figura feminina que usava um torço na cabeça me recepcionou à entrada da Feira. Meu desejo de fazer um penteado afro nos cabelos quase se materializou logo na primeira barraca, mas, infelizmente, a artista responsável pelos penteados ainda estava se penteando e me pediu que retornasse mais tarde. Segui até a barraca em frente onde duas jovens simpaticíssimas me deram um livreto de título "Uma História de Amor com o Samba" e o cd Alvorada. Em seguida, tive que decidir entre uma variedade de belos e coloridos colares expostos pela nigeriana Bolaji. Foi ela quem me ensinou o termo "Bouani" em iorubá. Também trocamos as traduções dos nossos nomes. Com orgulho lhe disse que o meu deriva do latim e significa "verdade", cuja tradução é "verité en français". Devo confessar a vocês que a poesia do significado do seu nome me deixou um rago de inveja: "flor que traz alegria" - não recordo bem (seria um ato falho?). No estande da NAFRO PM perguntei ao expositor, quais eram as religiões de matriz Africana. Como supunha, ele me disse serem apenas o Candomblé e a Umbanda. Eu lhe perguntei se, só na África, havia outras religiões além dessas que justificasse o termo utilizado pela Polícia Militar da Bahia. Foi então que fme ensinou algo muito importante: cada reino, tribo ou grupo étnico africano, cultuava um Deus, um Orixá. O processo de escravidão, ao trazer pessoas de diferentes regiões do continente, fez com que aqui fosse gerada essa nova religiosidade politeísta, que no Candomblé reune: Iemanjá, Oxum, Ogum, Nanã, Iansã, Oxalá, Xangô e Oxóssi (o meu protetor). Isso significa que, durante o processo perverso de escravidão, os negros trazidos da África uniram-se para transformar o seu vínculo religioso incorporando entidades de vários grupos étnicos e ainda disfarçaram essa fé original, através do sincretismo religioso para poder preservar os laços com o Divino e lhes dar sustentação naquele momento histórico de extrema dificuldade. Essa é uma história muito bela de força na fé e resistência na adversidade que despertou o meu interesse em iniciar um estudo sobre o tema. Ele me sugeriu, além obviamente do CEAFRO (UFBA), a Casa do Benin, Casa de Angola e Casa da Nigéria como possíveis locais para cursos de aprofundamento. Prossegui a minha caminhada, agradecida.




Comprei dois brincos de Manuela que criou a um brinco com a bonequinha negra "Abayomi - encontro feliz" confeccionada em contas e com uma saia de casca de licuri. Manuela é aluna do curso de História da UFBa e me deixou muito feliz pela forma positiva como reagiu à minha ladainha de repulsa aos sacos plástico que vinha recebendo de cada uma das barracas. Ela me disse que no dia seguinte estaria com um saco de papel reciclado para embalar seus brincos, chaveiros e colares com a pequena Abayomi. Trocamos e-mails e eu fiquei de retornar para comprar outras peças. Como supunha, meu marido chegou sem que eu tivesse visitado todos os stands. Sentindo que o tempo passava rápido, não tomei o banho de folhas oferecido no Palácio de Oxossi, não pude apreciar os tecidos, blusas e vestidos em liquidação na Didara de Goya Lopes (quem sabe desta vez poderia comprar mais uma de suas peças?) e principalmente, saí com maior fome do que entrei mesmo tendo visto as barracas com comidinhas deliciosas como o beiju feito na hora que me deu água na boca!

Em meu percurso passei por vários outros locais como a Associação Protetora dos Desvalidos -SPD, a Arte´s Campemêlo, o Projeto Didá Alamojú II - Escola da Sabedoria, conheci e comprei o cd do artista de blues, Jairo Monteiro ,de título "Ouça Alto ". Recebi o catálogo produzido pelo SEBRAE sobre Economia Criativa, encomendei uma bata com uma artesã muito simpática, cujo contato perdi. Mas de todos os inúmeros encontros que tive, preciso destacar dois deles: o primeiro foi com uma pessoa que visitou a minha casa há cerca de 6 anos. Estivemos juntas apenas uma vez, mas como sou boa fisionomista, eu a reconheci. Ela estava expondo um trabalho muito interessante de reaproveitamento de vidro. A segunda surpresa foi encontrar Emília Matos. Já havia comprado suas peças nas feiras do Instituto Mauá. Emília trabalha com peças em tecido de muita criatividade e bom acabamento. Ela também me reconheceu e teve até memória das últimas peças que comprei em sua mão. Como estou fazendo um curso de economia solidária e também sou artesã, estamos aventando a possibilidade de nos unir em uma associação.


Oxalá saibamos usar a sabedoria e inteligência e criatividade expressa pelos nossos ancestrais negros, transformando as dificuldades em originais possibilidades!

Um comentário:

  1. Tem que voltar lá para perguntar o significado do nome da FLOR AMOROSA!
    Além de comer esse beijú e rever seu contato perdido, pois se foi tão bom assim, há que repetir a visita! Força! 1000 bjs
    Que Oxóssi lhe proteja sempre meu amor!

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