terça-feira, 5 de junho de 2012

O ENFORCADO (OU FALANDO DE AMOR)



Acabo de vir da Caminhada da Lua Cheia. Há 18 anos, a nutricionista Glauvânia Jansen  orienta essa meditação andando e acredito que essa foi a 5a vez em que eu a acompanhei nesse trajeto por cerca de 7 quilômetros da orla de Salvador.  Na lua cheia do mês junino, o tema escolhido para trabalharmos foi o elemento fogo como representação da nossa fé interior. Assim, fizemos uma fogueira ao redor da qual foram abertos os trabalhos com músicas do Rei do Baião no ano de seu centenário.

No caminho fiquei pensando que esse simbolismo deve estar associado ao mito de Prometeu Acorrentado que roubou o fogo dos deuses para dá-lo aos homens, sendo por isso punido. Numa leitura mais profunda talvez sua tentativa tenha sido a de dar aos homens a consciência divina que possuem. A certeza de que são imagem e semelhança do Criador.

Mas há muita fé, que ao contrário de libertar, acorrenta. O tema é tão espinhoso que, quando não provoca guerras intermináveis, causa polêmicas desnecessárias. Isso não deixou de acontecer nesta noite, embora logo no início tenha sido dito que a proposta não tinha uma orientação religiosa específica. Tratar da fé em uma visão não relacionada a uma dada religião é algo muito complicado para vários de nós que não conseguem compreender ser possível abrir-se a diversas compreensões de Deus. Então, foi preciso antecipar a costumeira dança da paz e sugerir que, em silêncio, nos concentrássemos na nossa respiração - o sopro misterioso - para termos contato com a serenidade que é o objetivo do trabalho.

E é justamente no silêncio que a caminhada se faz mais divina, quando podemos apreciar o mar da Bahia (sempre tão próximo de nós, sem que lhe dediquemos poucos minutos do nossa rotina), sentir a luz do luar e o brilho das estrelas sobre nossas cabeças, ter na presença do grupo a segurança de que precisamos para usufruir nossas pegadas na areia, as ondas a roçar nossos pés e a brisa - o sal da vida - a soprar sobre nossa pele.


Assim como abrimos a caminhada, acabo essa postagem com música:


"Falando de amor, mais uma vez, mais uma voz

Esqueço aquilo tudo que não sabia tão de cor
Eu não sei de nada, certas horas sei de tudo
Quando as pessoas se falam, as palavras são escudos
Eu não sei de nada, certas horas sei de tudo
Quando as pessoas se calam, nascem flores ou muros
Mas quando a gente se olha mesmo
Mesmo por um segundo
É a coisa mais doce
Que acontece no mundo (...)"

                                      Joyce

NAMASTÊ!