segunda-feira, 28 de novembro de 2022

A LOUCURA DAS PALAVRAS


 

Se substituída por um sinônimo, uma palavra nem sempre tem o mesmo significado. Ele pode sugerir outro sentido, algumas nuances a mais, mudar a intensidade, soar estranho etc. É isso o que acontece com “histeria”. Qualquer busca, seja em dicionário físico ou virtual, vai te levar a sinônimos como “nervosismo”, mas os exemplos serão quase todos no feminino. Quando você escutou a frase: “Ele está histérico!”? Compare com a frequência com que ouviu a mesma expressão associada às mulheres. E convenhamos, dizer que alguém está nervoso não tem o mesmo peso que dizer que essa pessoa está histérica, não é mesmo?

Na antiguidade, o termo “histeria” foi cunhado a partir da palavra “útero” e em seu livro “Estudos sobre a histeria”, Freud apresenta os resultados de estudos com 5 pacientes: Anna, Elisabeth, Emmy, Lucy e Katharina. O livro foi publicado em 1895 e desde então, embora o conceito psicanalítico da histeria tenha evoluído bastante, até hoje o adjetivo correspondente continua sendo associado às mulheres. Por que isso se dá? Certamente não é só pelo desconhecimento da evolução desses estudos, mas porque não houve tanta evolução no modo como é avaliado e controlado o comportamento feminimo.

As mulheres não ficavam simplesmente nervosas, ficavam histéricas. E sendo a histeria considerada uma patologia era fácil recorrer à internação para conter seus comportamento e corpos considerados socialmente inapropriados.  Esse é o tema de projeto da poeta Isabela Penov, aprovado pelo Itaú Cultural. Isabela fez uma pesquisa em arquivos de manicômios brasileiros dos últimos 100 anos nos quais observou que os diagnósticos e internações de mulheres eram feitos tendo como base os relatos de seus pais, maridos e irmãos. O projeto incluiu uma live em que a psicanalista Monik Sittoni discutiu a relação entre o feminino e a Psicanálise e outra de título “Mulheres no Avesso da Razão” com as escritoras Micheliny Verunschk e Yonina Staseviska, além de uma oficina de escrita com mulheres de várias cidades do país. Eu tive a satisfação de partilhar a experiência com essas mulheres. Mulheres que têm em comum não só a experiência de sofrer o estigma da loucura feminina, mas também o uso da palavra como um remédio para suas dores. Os textos resultantes da oficina estão reunidos no “Manual Prático de Desvarios”, disponível no link abaixo:

                                           Manual Prático de Desvarios

No dia 04/12/22, no Instituto Sarath, em São Paulo, Isabela Penov fará o lançamento do livro "Compêndio para Moças de Olhares Lânguidos", resultado desse trabalho. Um programa para quem não tem medo de encarar as irracionalidades da nossa realidade e seu reflexo nos campos mais sutis como o das palavras. 


quinta-feira, 19 de maio de 2022

EU GOSTO DE SER MULHER

 
"EU GOSTO DE SER MULHER...`"
MARINA LIMA




Na semana passada eu estava dirigindo e em um programa da rádio Nova Brasil eles pediam aos ouvintes que mandassem mensagem dizendo que músicas os definiam. Imediatamente eu pensei em ”O lado quente do ser”. Há várias músicas que falam de Veras, entre elas tem "Paula e Bebeto" que é animada como eu sou, por natureza. Quando eu fazia Matemática na Ufba, me chamavam de Vera Gata por conta da música de Caetano, mas essa me define melhor. Pelo que me recordo é uma música de Marina Lima. Ainda guardo o disco vinil com capa P&B em que ela a lançou. Maria Bethânia gravou uma versão um pouco diferente, mas igualmente bonita. Também me lembrei de um fato que aconteceu em uma sapataria junto ao Forte de São Pedro. Isso se deu há uns 40 anos e à época eu morava nas proximidades. Eu cantarolava essa música enquanto experimentava uma sandália e a pessoa que me atendia perguntou se eu sempre cantava. Eu lhe respondi que sim e que quando não estava bem, eu cantava  músicas tristes. Não é verdade. Eu adoraria, mas não é  verdade. A tristeza muitas vezes me emudece. Nas piores fases não escrevo, não leio e, obviamente, não canto.  Por vezes sequer ligo o rádio do carro.  
Chico Buarque definiu muito bem esse estado em Roda Viva: ”Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu...”. É uma pena que eu me concentre mais no início da música e não no seu refrão que afirma que o mundo roda em um instante. Mas faço sessões de musicoterapia e já aconteceu de  sair melhor apenas ao ouvir o profissional dedilhando uma canção qualquer ao violão, porque a minha miopia mental a apagara do horizonte, e foi renovador conseguir corrigir o foco. Por isso sou muito grata aos musicoterapeutas Luiz Flávio Prado e Renan Ribeiro.  
Ahh, eu gosto de sua uma mulher que mostra mais o que sente, mas nunca quis ser bailarina. A minha grande frustração é não ser cantora. E nem precisaria ser tão maravilhosa quanto Marisa Monte, bastava que ao cantar eu me transportasse para um vilarejo onde pudesse andar e voar!


PRA ACALMAR O CORAÇÃO, LÁ O MUNDO TEM RAZÃO..."
Marisa Monte