sexta-feira, 29 de agosto de 2014

terça-feira, 12 de agosto de 2014

DE PROFESSORA FEDERAL A PROFESSORA BOLSISTA - UM CALVÁRIO

             Ontem, tivemos a nossa última aula de Língua Portuguesa do curso noturno de Recepcionista de Eventos do Pronatec. Este texto é motivado por uma reflexão mais aprofundada do processo ensino-aprendizagem por que passei em minha longa experiência  dedicada à educação.

         Inicialmente, sofri muito ensinando Matemática, porque escolhi essa profissão por desafio e não por prazer. Se o prazer fosse o grande motivador da minha escolha, talvez pudesse ter ido estudar Direito, Psicologia ou Letras. Quem sabe até continuasse Arquitetura, cujo curso abandonei no 2º ano. Não o fiz, no entanto. Optei por ter pressa e Encantada com a nova descoberta da beleza da Matemática e com pressa em aproveitar créditos, fiz vestibular para Licenciatura em Matemática. Ao final do curso, descobri que não conhecia muito da Área e resolvi me formar em Bacharelado. Concluído o Bacharelado, percebi que a grande dificuldade era lidar com os estudantes, vencer a resistência e temor que tinham pela disciplina, além da falta que tinham de conhecimentos básicos, na escola particular e, principalmente, na escola pública. 

Buscando preencher essas lacunas na minha formação, peguei uma avião para São Paulo onde aconteceria o primeiro Encontro de Educação Matemática - na PUC - e me matriculei na USP para estudar Estatística e Geometria em cursos de férias para professores. O Colégio Alfred Nobel, onde eu lecionava, já através de um contrato formal, se negou a me ajudar nesse processo de capacitação. Na volta, então, respondi a esse não, pedindo demissão dele para me aventurar na Escola Técnica Federal da Bahia. Lá, assumi o cargo de professora substituta após Avaliação de Currículo e Entrevista com uma banca de pedagogos. Foi posto que, após uma avaliação do desempenho dos selecionados, o contrato poderia ser revalidado por mais 6m. Já no final do período de um ano, todo nós, professores substitutos, sairíamos da instituição e seríamos a primeira leva de professores a passarem por um processo de Concurso Público. Como concorreríamos sem qualquer vantagem em relação aos que não tinham participado do processo, unimo-nos em uma tentativa política para que a nossa experiência na instituição fosse considerada. Na ETFBa, eram vários em igual situação à minha: Profa. Ângela Medeiros, Prof. Elias Ramos, Profa. Sarah Dick, Profa.  Ângela Mirante, Prof. Sebastião Filho, Profa. Marlene Socorro, Profa. Tânia Jussara e o Prof. Renato, hoje eleito reitor do IFBA. Confesso que não me sentia confortável em pleitear a nossa permanência, seja porque considerava justa a exigência de Concurso Público, seja porque não queria pedir que legislassem em minha própria causa. A Constituinte, instaurada durante o governo Sarney, decidiu que os servidores, que já estava atuando com contratos precários, seriam efetivados e que, a partir da promulgação da Carta Magna de 1988, não mais seria permitido o ingresso de professores no Serviço Público sem processo seletivo com Avaliação de Currículo, Prova Escrita e Prova Didática.

O fato é que, nessa instituição,  eu permaneci lecionando por 24 anos, sendo cerca de 15 em Matemática, uns 5 em Inglês e uma parte dedicada à Coordenadoria de Comunicação Social. Com 26 anos dedicados à educação, eu me aposentei de modo temeroso, por conta do baixo salário e das poucas perspectivas de vida produtiva e prazerosa em um mundo onde quase tudo é pago. Os amigos também me desaconselhavam a fazê-lo, lembrando-me que há anos era anunciado um plano governamental de capacitação, que poderia me permitir obter os graus de Mestre e Doutor, com suas consequentes gratificações. Porém, eu já estava por demais cansada e doente, para me submeter a um processo emocionalmente desgastante de Mestrado ou Doutorado, para aguardar a aprovação e vigência do plano, fazer o Mestrado em 3 anos e ainda dar um retorno à instituição pelo que me promoveu social e financeiramente. Muito doente e cansada eu estava...

       Hoje, como forma de acrescentar um pequeno rendimento ao meu salário de trabalhadora desvalorizada social e financeiramente, estou ministrando aulas no Pronatec. Ensino nos cursos de curta duração desse programa governamental, de cuja proposta eu divirjo profundamente, seja na concepção de educação, nos recursos e valores oferecidos aos professores e alunos, e no fato dele ser gratuito, sem ser público – o que faz uma diferença enorme, considerando que os recursos, através do processo de gratuidade, são encaminhados para instituições educacionais públicas e particulares que têm a autonomia de uso deles como melhor lhes aprouver. Tenho ministrado aulas para os cursos de Recepcionista de Eventos. Os materiais didáticos que preparamos não são pagos, não há auxílio transporte nem alimentação para os professores, a bolsa oferecida aos alunos não paga suas despesas com transporte e alimentação, não há nenhum recurso didático além de um quadro branco pequeno e pincéis (sequer um retroprojetor é disponibilizado, imagine se haveria data-show e outros que eu desejaria dispor) e, por fim,  não há uma data confiável para pagamento das bolsas, seja para professores ou para alunos. Essas condições têm feito com que menos de 50% dos alunos estejam cursando as primeiras disciplinas. Dentre esses, quantos cumprirão a carga horária de 75% e serão aprovados nelas? 


Concluindo essa novela mexicana, senão com final, ao menos remediado : o  grande ganho hoje e ontem, é a satisfação em perceber que, ao contrário do que propalam os discursos em véspera de eleições, o que há de valorização aos professores são apenas os alunos e o que percebemos ter representado em suas vidas como elementos motivadores dos seus planos pessoais de educação para a vida. 




segunda-feira, 11 de agosto de 2014

APRENDI A OUVI-LA, A ESCUTAR A MINHA VOZ INTERIOR!


        Eu já tinha marcado em minha agenda que no dia dos pais haveria a Caminhada da Luz, há 20 anos, orientada pela nutricionista Glauvânia Jansen, quando, por volta das 18h, li no celular que essa seria uma lua muito especial, em que ela estaria mais perto da terra do que esteve nesses exatos 20 anos. Perguntei se seria mesmo ontem ou hoje. Porém, não esperei a resposta. Corri, coloquei biquíni, roupa de ginástica, uma rasteirinha e chamei a minha família para irmos juntos. Ninguém quis, como eu supunha, mas eu saí correndo ao encontro dela, dela que sempre inspirou namorados e poetas. Logo na saída, um engarrafamento estava estancando as vias internas, por onde os motoristas circulavam tentando fugir da viatura que os parava para fazer o teste do bafômetro. Por indicação de uma mulher, dei ré e passagem aos carros, o que me permitiu perceber que deveria optar por outro caminho para passar bem longe de engarrafamentos e viaturas e fui... fui ao encontro do que me sussurrava a forte e misteriosa intuição que sempre tive.


        Cheguei lá disposta a saudar Glauvânia com a pergunta: "E aí, tem espaço para a poesia nesse caminho?" Mas... ela não estava! Pela primeira vez em que fui dar meus passos sobre a areias a partir do Hotel Catussaba, ela estava ausente, essa surpresa me entristeceu um pouco. Alguém me disse que outra mulher coordenaria os trabalhos e, no escuro, me dirigi até ela. Abaixei-me e pude reconhecer, maravilhada, que essa moça tinha sido minha contemporânea da UFBA, quando éramos estudantes, e, por 24 anos minha colega no IFBA. Além disso, estava, finalmente aposentada como eu. Tinha sido capaz de vencer o seu medo do que significava a aposentadoria profissional, como tanto lhe estimulei a fazer. Era Elizabeth, irmã de Ednaldo, meu parceiro na Especialização em Informática Educativa (Cefet-GO/Unicamp). Beth estava tentando se concentrar para organizar, em sua mente e seu coração, quais seriam as atividades a serem desenvolvidas no percurso. Quando me ouviu falar em poesia, segredou que o tema seria "desapego" e me pediu que pensasse em uma poesia sobre isso. Eu vasculhei o meu repertório, ainda um pouco ressentida de que não teria a oportunidade de falar poesias sobre o grande Pai de todos nós. Mas, rapidamente, mudei de planos e segue o fluxo que se me apresentava naquele momento. Eu lhe falei, "...já sei, tem uma de Cecília Meireles, você quer ouvir?' Ela: "Não, se é sobre desapego e ainda Cecília, tá ótimo." 

        O grupo, que não havia sido reunido, desde a chegada de todos, estava disperso e muito barulhento. Bete, seguiu o roteiro de Glauvânia: pediu que se manifestassem aqueles que ali estavam pela primeira vez, explicou qual era a proposta do encontro sob a lua cheia, explicou acerca das 3 paradas que faríamos durante a nossa ida de 45 minutos e dos momentos de reflexão e união em cada uma delas. Além disso, deu as instruções gerais para que tentássemos nos concentrar em um objetivo que desejávamos para as nossas vidas. Como sempre, foi difícil calar, porque o barulho que nos circundava não era das ondas do mar, mas da nossas mentes super agitadas. Dançamos nos curando na primeira parada, fizemos um momento de meditação virados para a lua, agradecendo pelas coisas que precisávamos nos desapegar para que o novo encontrasse espaço dentro de nós (como esse momento reflexivo, mudou a energia de todos!). E, no final, Bete nos fez cantar a música da Paz orientando-nos que mantivéssemos o canto em nossas mentes e bocas. Foi então que troquei a música mental, porque eu fui até o final sozinha e me concentrando na minha respiração sincronizada com os meus pés e repetindo o mantra de Tara Vermelha. Fiquei aguardando o sinal que ela iria me dar para que eu falasse a poesia. E ela não me chamou em nenhum momento da ida. Voltei cantando baixinho a musiquinha da paz.



        Na conclusão dos trabalhos, ela pediu que as pessoas se manifestassem sobre a experiência que tiveram. Aí, todos calaram.  Então ela me pediu que viesse ao centro do círculo de pessoas abraçadas para lhes falar com palavras doces e poéticas o que nos sopravam os ventos nos cabelos, a brisa marinha e nos enchia da luz da lua. Queria ter agradecido publicamente a Glauvânia por estar presenta, sem estar, naquele instante, a Bete por ter conduzido tão sensível e inteligentemente a caminhada interior de todos e ao grande Pai que foi o mago responsável por nos uniu na noite. Falei que o maior desapego seria deixar que cada vida se fosse de dentro de nós e que os outros desapegos eram aprendizagens para esse momento último, considerando que vivemos diariamente sucessivos instantes de morte e renascimento. Uma introdução para esse lindo e profundo poema:

4º Motivo da Rosa:
roses

“Não te aflijas com a pétala que voa:
também é ser, deixar de ser assim.
Rosas verá, só de cinzas franzida,
mortas, intactas pelo teu jardim.
Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe, o vento vai falando de mim.
E por perder-me é que vão me lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim.”


        NAMASTÊ!

sábado, 9 de agosto de 2014

SEMENTES DE UMBIGOS, ENFIM, DÃO SEUS PRIMEIROS BROTOS FLORIDOS!

Ontem, na data de Vânia, 8/8, renasceram os três filhos de Maria Célia e Milton Passos. Saíram para respirar todos juntos qual trigêmios, frutos de um mesmo óvulo e espermatozóides que se encontraram por obra do divino há quase 56 anos se fez luz e verbo através deles. Por longo tempo, esses fetos nadaram nas mesmas águas amnióticas daquele enorme ventre que nos pariu de modo normal e com muita dor, até que Vânia nasceu com 5 quilos e foi a meninona sensação do Hospital Dom Pedro, em Feira de Santana. A vida dessas três crianças, dependentes emocionalmente e independentes profissionalmente, pode ter parecido um calvário, mas como todo calvário tem tido a sua redenção.

Considero ontem o marco desse longo caminho de cura, embora ele tenha sido um processo gestado continuamente nos nossos corações. A paz que ela não conseguiu colocar em sua vida, foi aprendida por nós desde os nossos primeiros esforços para engatinhar. Hoje andamos eretos e estamos começando outro percurso, o. de nos curvar de volta ao estado de crianças velhas e indefesas. Abandonadas à própria sorte, como são milhares dessas pretas e pobres crianças que nos abordam nos semáforos das ruas do Oiapoque ao Chui. Suas mães as espreitam e parecem usá-los por desamor, mas o fazem porque não veem outra saída para manterem um fio tênue de vida os ligando do céu azul a essa terra em que todo ouro dá e é vendido a preço de banana. 

O fato é que não nascemos só de uma mãe, tivemos um pai que era fisicamente 13(treze) anos mais velho do que ela e mentalmente 30 anos atrasado em termos de consciência do valor das artes, da cultura e da educação para a libertação dos seres. Não, não o julguem ignorante, seu grande conhecimento era de outra esfera, era o conhecimento de quem sai galopando para respira novos ares. O ar das terras que desbravou em Barreira, para onde viajavam juntos com correntes sobre as rodas de uma C10 e voltavam enlameados dos pés até a última ponta dos cabelos. Esse era o amor que souberam e puderam experimentar, porque foi o que receberam e não conseguiram transformar em algo ainda melhor. Embora entre em desespero muitas vezes, no fundo, eu creio na progressiva depuração da raça humana, apesar de todo o ambiente de caos que nos rodeia. As Ciências, ao mesmo tempo em que têm negado seus métodos limitados de investigação iluministas,  têm provado que há uma ordem de luz e mistério dentro desse caos total, tanto no nível micro das partículas como a nível macro, o cósmico. E como o que nos circunda é constituído da mesma matéria que nos forma, não poderíamos ser diferentes dele. Somos constituídos a Sua  imagem e semelhança com o propósito de expandirmos e voltarmos a Ele.


Portanto, Tinho, quero te dizer que enquanto os seus festejos do aniversário da nossa irmã do meio foram com Lívia, Micheli e tia Rita, tomando uma cervejinha na varanda da sua casinha, os meus foram ouvindo música na minha. A festa que fiz em amor a nós 3, começou na manhã, quando eu dancei sozinha no meu quarto, continou quando liguei para nossa mãe, lhe mostrando uma gravação em que a cantora de quem sou fã reverenciava aquela de quem ela sempre foi fã também: Angela RoRo e Angela Maria, respectivamente. Nesse diapasão, eu fui fluindo ao sabor e ritmo de diversas músicas, porque passei o dia todo no computador as ouvindo, enquanto escrevia mensagens, fazia revisões em redações e versões para o inglês a pedido de amigos. Começamos a noite ouvindo Rod Stewart com a música que pensamos dançar no nosso casamento, há 2 anos: 'They can't take that away from me" (no, no,they can't take that away from us), seguidas de "Tonight is the night" e finalizada por "I don´t wanna talk about it" em parceria com Amy, a outra, Amy Belle: I don't wanna talk about, how you broke my heart". It could be other song to all our family, to you mom: '... my love for you is inimaginable, my respect for you is imense ....you're in my heart, you're in my soul...you're a sinfony and a play....you would be my breath if I go home."
E dormi ouvindo um mix de Ro Ro (sou sua tiete de carteirinha desde quando lançou seus primeiros discos eu os tenho ainda em vinil). Esse mix que coloquei na vitrola do laptop, começava com ela e Moska cantando  juntos "Feliz da Vida". Contrariando o meu costume, deixei o computador ligado e caímos nos braços um do outro, digo, nos braços do Deus Morfeu. Ontem, na verdade, o girassol que plantamos com nossos 3 umbigos originais, o qual, aparentemente não havia vingado, deu seu primeiro broto no jardim em frente à minha casa.

Hoje, é outro dia, como sempre serão os amanhãs e eu acordei, há pouco, com uma  música a confirmar todos os Passos que demos ontem. Convido-os a ouvir Vander Lee cantando "PENSEI QUE FOSSE CÉU"e reiterando que  "FELICIDADE BATE À PORTA E AINDA RI DE MIM"! 
Ouçam-na conosco:  


Moral da Minha Históira no.xxx:  MEUS DIAS NUNCA MAIS SERÃO IGUAIS!

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

É PRECISO MUITA CORAGEM PARA SER HUMANO

Há mais de 15 anos, minha médica homeopata, Mônica Oliveira, em um momento muito difícil de sua vida, me surpreendeu dizendo: "Vera, você não é minha paciente por um simples acaso. Observe o que existe de semelhante entre nós:..." Era uma advertência as suas palavras, mas eu as entendi como um alerta máximo e passei a ter muito medo! Hoje, ela está mais segura, bonita e feliz do que naquele dia e eu... Ohh, eu levei anos presa nesse medo que já existia dentro de mim. Isso prova a existência de muito mais ruídos do que dizem os teóricos da comunicação. Lembro-me que nos olhávamos nos olhos, estávamos próximas, eu buscava sua ajuda e ela queria me ajudar, portanto, em uma situação ideal para que houvesse um diálogo entre nós e que o objetivo da comunicação fosse alcançado. Tempos depois, elaprópria sentindo-se talvez profissionalmente impotente, me recomendou que eu aceitasse ser tratada com medicamentos psiquiátricos (imagino o quanto pode ter sido difícil para uma pessoa com as crenças ela, fazer-me tal recomendação), mas o fez ao acessar a sua humanidade, do plano de seu amor por si e pelos pacientes que felizmente tinha e ainda têm)!
A partir de então, tive vários outros médicos: um bom em excesso, a ponto de se deixa manipular por mim e, desse modo,  não me ajudar tanto. Outro que me fez de cobaia me prescrevendo medicamentos com dosagens inimagináveis (as próprias farmácias de manipulação não conseguiam acreditar terem sido recomendados a mim, por ele. Uma delas, a Farmácia Flora, se negou a fazer o medicamento e aquela que o fez,  confirmou a dosagem com o tal médico). Essa medicação provocou um surto em mim, exatamente na época em que eu voltava para a minha cidade natal, após 30 anos de afastamento... (essa é outra história a ser contada mais tarde). Houve um médico em cuja sala de espera, eu passava mais de 2 horas  em pé e em contato com pessoas com quadros visivelmente mais graves do que o meu. Passei por médicas que, para ganharem mais do que lhe pagavam os planos de saúde dos quais aceitaram ser conveniadas, atendiam 30 pacientes em uma única manhã. Também fui atendida por outra que, mesmo recebendo pouquíssimo e nessa mesma clínica, me atendia por um longo período, não aceitava pacientes extras e era capaz de me ouvir e me tratar com o melhor do seus conhecimento, sabedoria e carinho. Outro existiu que, originário dessa mesma clínica, deixou todos os conhecimentos que havia aprendido das teorias psiquiátricas da Dra. Nise da Silveira, e tentou me preparar para um tratamento com internação e choques elétricos. Eu era a doente, mas fui capaz de ver as doenças que estavam por trás de cada um desses homens que queriam manipular a minha vida!
A primeira psiquiatra em quem confiei (pertencia ao ICEP da Pituba, hoje está na APAIS) não me permitiu duvidar de sua orientação e conhecimento. Mas ela tinha uma forma muito dura de tratar que me fazia lembrar vários mau-tratos por que eu  havia passado por longo tempo. Um dia, ela disse-me que eu deveria procurar outro psiquiatra. Eu saí de lá sentindo-me como uma criança rejeitada pela própria mãe. Mas por ter sido atendida por esses vários, diferente e senão incompetente, mas desequilibrados médicos, a ela eu retornei, suplicando que me atendesse novamente. Ela abriu uma exceção, porque não estava recebendo novos pacientes e em processo de desligamento do único plano de saúde que atendia há anos. Não coincidentemente, esse era o único plano de saúde pelo qual a Dra. Mônica atendia.


Eu sei que adquiri um pouco de conhecimento nas crenças que orientam a condução de médicos e nos empecilhos que dificultam uma comunicação perfeita entre mulheres e homens de diferentes profissão, conhecimento e origem, ao longo dessa minha trajetória de quase 40 anos. Portanto, concluo afirmando que: não é o que o médico te diz, mas em que lugar de fala ele se coloca. É também se o seu paciente se coloca como paciente inativo ou ser responsável pelo próprio destino. Não é apenas o conhecimento teórico do "doutor" o que conta, mas a sua intenção de ver os seus pacientes sãos e independentes dele. Se os olha com um viés de solidariedade, olhar bondoso e conhecedor de que eles também possuem suas próprias vivências e são seres capazes de partilhar a responsabilidade por seus processos de cura. Apendi, na prática e como cobaia, que o seu papel é o de ser parceiro do ativo-paciente nessas consultas. Trata-se de uma consulta, não de uma ordem ou mandamento, afinal! Esconder suas dúvidas e inseguranças obstrui esse caminho de encontro e parceria. O livro que melhor expressa o que digo tem o título 'Uma Mente Inquieta." e foi escrito por uma psiquiatra que teve a coragem de revelar ao mundo, que ela era portadora de transtorno bipolar e que isso não a tornava incapaz de ajudar as suas pacientes com igual diagnóstico.

Finalizando, semana passada eu tive uma conversa maravilhosa com a minha antiga e atual psiquiatra na qual ela me disse como foi a sua infância e o que a tornou uma mulher como é. Foi com muita alegria e amor que eu a escutei. Tentando aprender não só os conhecimentos que ela adquiriu na Faculdade de Medicina da Ufba, nos Centros Espíritas onde dá palestras, mas na melhor faculdade que é a vida. Tanto no caso da minha homeopata como no caso dessa psiquiatra, esses encontros só se deram porque sobra coragem a essas mulheres e a mim também. Coragem para partilhar o que sinto e observar o que são, para ouvir as minhas dores, para me verem como alguém capaz de promover a sua própria cura, porque não lhes falta amor no ato de falar e curar. Afinal, é Deus o maior conselheiro e médico. O médico de homens e de almas ou de espíritos. E sem amor, não haverá cura, mesmo que estejam juntos pacientes, psiquiatras, psicólogos e homeopatas. 

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

SOMOS MÍOPES: EU, ELA E TODOS NÓS.

Primeiro, eu chorei, como sempre faço. Chorei muito por nós duas, por todos nós. Depois, entre lágrimas,eu falei dela aos amigos ainda e mais uma vez. Mais tarde eu sonhei com ela. E foi na manhã do dia seguinte, que ela me surpreendeu com um inesperado telefonema. Mais inusitado eram o tom doce de sua voz e o conteúdo da mensagem: "disse que me amava, confirmou ser eu a sua filha predileta e revelou ter ligado para me dar apoio na "minha" doença. Eu lhe respondi: "estou bem, cuide de si!" Acrescentei:  "doente todos somos, cuide de se ver mais e melhor." Eu juro que tentei. Esforcei-me para que o meu modo fosse tranquilo ao lhe dizer que eu sabia: sabia que ela sofria, que muito valia e nos vigiava à distância como sempre fez. Fiz um esforço para lhe lembrar da própria força, criatividade e inteligência. Agradeci pela educação que nos deu e lhe perguntei por que não se presenteara com iguais oportunidades. No entanto, na sua miopia, ela nada ouvia. Suas crenças a cegavam.  e a cada vez e mais fortemente, ela se ofendia com minhas palavras. Então eu falei e eu mesma respondi:  "Sabe o porquê de eu fiquei doente? Para quê fiquei pendulando entre sentimentos bipolares? Eu fiquei doente para que você viesse em meu socorro!" 

Queria lhe falar palavras de amor e perdão. Pedir, por favor. Falar calma e bem baixinho. Conversar no ouvido, ensinar como professora, como uma excelente professora primária que sabe estar lidando com uma criança pequenina e indefesa. Como alguém cuja tarefa é confiar em que o adulto que orienta, despontará, um dia, como o seu melhor legado, busca energias para o ajudar a se constituir, oferecendo-lhe o tesouro da sua dedicação.

Não, consegui não! Ao menos, no meu tom de voz, tirei nota baixa na prova, digo, na provação!E eu gritei a minha dor sufocada. Ou gritei as verdades, as minhas, que calei por inumeráveis anos da minha própria infância e adolescência. E como acontece sempre, terminei a aula com uma sensação de vazio, incompetência e incompreensão. Chorei por não ter sido vista oferecendo o que havia de melhor dentro de mim (ao menos aquilo que de melhor eu podia acessar naquele momento que foi a manhã de ontem). Tinha a consciência de estar acessando o que fui capaz de descobrir de bondade em mim, de que utilizava todos os meus conhecimentos de uma prática de 26 anos na educação de jovens adolescentes, de estar me conectando com as reflexões que tenho feito por longos 40 anos em divãs de terapeutas de diversas correntes da Psicologia, de encarar de frente a nossa semelhança física e em temperamento. No entanto, os meus sentimentos falaram muito mais alto. Minha emoção correu na contramão da minha intenção... Eu conversei com ela através do meu olhar estrábico e ela me ouviu pelo seu olhar míope.

MAS EU SEI, EU SEI QUE: 

A) SE NÃO REVESTI A MINHA VOZ DA MELHOR TONALIDADE AVELUDADA, SE NÃO FIZ O MEU DISCURSO USANDO A MELHOR ORATÓRIA E SE NÃO ESCREVO AGORA COM AS REGRAS MAIS PERFEITAS DA NORMA CULTA... É PORQUE, PURA E SIMPLESMENTE, EU NÃO APRENDI, EU NÃO SEI;

B) SE NÃO FUI CLARA E TRANSPARENTE COMO O FILÓ NO QUAL ELA BORDOU O MEU VESTIDO DE 15 ANOS, É PORQUE MAIS CLAREZA ME FALTA PARA ENFRENTAR AS MINHAS DORES E ADMITIR QUE AS DELA DEVEM TER SIDO MAIORES DO QUE AS MINHAS;

C) SE DESENHEI COISAS DO PASSADO QUE JÁ DEVERIAM TER SIDO APAGADAS DA MINHA MEMÓRIA, É PORQUE ESSES GRILHÕES AINDA PRENDEM OS PÉS E MÃOS DA ESCRAVA FUGITIVA QUE FUI;

D) SE, ENFIM, NÃO PUDE SER A SUA MÃE, É PORQUE SUA FILHA EU SOU!