segunda-feira, 14 de março de 2011

VIVA A POESIA, NA BAHIA!


Ontem houve o lançamento de duas Antologias organizadas pelo poeta Goulart Gomes para o qual o nosso grupo foi convidado a falar poesia, no dia a ela dedicado. Aguardando os vários autores, a apresentação começou bem mais tarde do horário previsto. O ambiente era descontraído, mas não nos concentramos como de hábito e cometemos alguns erros. Sempre me aborreço quando acontecem e lembro que costumava falar aos meus alunos "Errar o que não sabe, tudo bem. Mas preste atenção para não errar o que sabe". O fato é que eu esqueci as primeiras palavras da poesia CREDO, que já apresentei várias vezes. Pedi socorro a Eurídice que a fala comigo e às outras colegas que conhecem seus versos e ninguém pôde sussurrar as palavras "DE TAL MODO É ".

No entanto, pela reação dos presentes parece que pusemos em prática o lema de "falar poesia sem ser chato", como preconiza a Escola Lucinda de Poesia Viva. No repertório, poemas de Adélia Prado, Álvaro de Campos, José Carlos Capinam, Cecília Meireles, Damário DaCruz, Elisa Lucinda, Karina Rabinovits, Rui Espinheira Filho e Waly Salomão. Para homenagear o aniversariante do dia 14, Castro Alves, finalizamos com o "Mocidade e Morte" apresentado com a peculiar emoção de Mara Vanessa. Destaques ainda para o Currículum de Sarah, o Desenho do quintal de infância de Silvana e para a intimidade relaxada de Jina no Elevador do Filho de Deus.

Surpeendentemente, um dos autores foi colega na Sociedade Brasileira de Educação Matemática. Assim, além dele, revi uma ex-colega de pensionato, um ex-professora da Matemática da UFBA e uma ex-colega de trabalho.

Houve lançamento em São Paulo e foi comentário geral de como havia sido mais informal e agradável o mesmo evento na Bahia. De nossa parte, é inegável o prazer que tivemos não só pela crescente empatia firmada em cada encontro, como pela satisfação de falar os versos que escolhemos por uma identidade enigmática de sentidos.

Falei com Vicente Cariri que o poema "Deus é Mulher" é o meu preferido de "Alma Assoreada". Mais tarde, pude enfim, conversar com Ronaldo Jacobina sobre o seu belo livro "Conversa para Ninar Cecília e Canções para Acordar Gente Grande" que eu tanto procurara quando estávamos ensaiando o recital com poemas de Cecília Meireles e Mário Quintana. Fechando o rol de surpresas, já em casa, ao folhear o "Poetrix 4 - Terra", fui compelida a escrever:

MUNDINHO*

dentro do livro,
poemas de Lilian Maial
novo encontro genial!

VISITA*

o sobrenome é MAIAL
e o livro foi porta
pra amiga virtual!

LILIAN*

dentro do livro,
nada mais presencial
poemas de amiga virtual!

*(Será que fiz um Poetrix?)

sexta-feira, 11 de março de 2011

VEREDAS LITERÁRIAS


A crônica abaixo foi selecionada através do Concurso Adélia Prado, promovido pela Editora Assis. Em fevereiro, houve o lançamento da coletânea Veredas Literárias, na cidade de Uberlândia-MG, com a participação de alguns dos autores publicados.

MORTES COTIDIANAS

Vera Passos

A gente tem de morrer tantas vezes nessa vida, que precisamos ir preparando a morte, talvez, definitiva. O nascimento é a primeira dessas mortes, quando deixamos a bolha escurinha, quente e úmida onde estamos em total sintonia com aquele ser que nos gerou e acolhe em uma simbiose perfeita, do qual extraímos tudo de que necessitamos. O sopro inicial é um grande esforço, mas o fazemos em nome da vida a nos que nos aguarda e das sucessivas mortes que a acompanham. È com tristeza e choro que manifestamos essa morte sempre prematura. Morremos ao sair da infância, o que tem acontecido cada vez mais cedo, devido ao apelo exaustivo da sociedade midiática e consumista que impõem às nossas crianças necessidades vãs, as tornando adultos mirins para o quê não estão de modo algum preparadas. Assim é que se tornam mães sem sequer terem ensaiado as brincadeiras com suas pequenas bonecas. Na adolescência, é toda a nossa identidade que morre e buscamos desesperados outra que nos caiba. Rabiscamos assinaturas possíveis e estilos de nos vestir e nos portar em público que nos definam. Ora nos escondemos, ora nos mostramos escandalosa e agressivamente.

Mais tarde, em novos rituais como ao entrar para a vida profissional e ao casar, vivemos outras diferentes mortes. Quando somos mães, morremos ao ver sair de nós aqueles seres que mantínhamos seguros dentro dos nossos corpos e agora se lançam no mundo em suas próprias descobertas e riscos. Fenecemos quando findam os nossos relacionamentos, e constatamos, que se apagou a chama do foi uma grande paixão.

Embora, ao nascer tivéssemos como destino o envelhecimento e a morte, a constatação do caminhar para o fim, no espelho nosso de cada dia, é a mais difícil das mortes enfrentadas. Dela fugimos desesperados! Porém ela teima em se expor nos espelhos que são os nossos antigos, e agora também velhos, amigos. Vemos irem-se parentes e amigos, enquanto seguimos nessa trilha misteriosa e tão imprevisível que é a vida. São muitas, e tantas, essas mortes... Às vezes a vida nos prende em armadilhas traiçoeiras a ponto de querermos, voluntária e estranhamente, morrer de fato e chegarmos a atentar contra a própria vida. Em estado de depressão, nos sabotamos e matamos vários dos nossos dias. É Tanatos que nos faz navegar pelo inconsciente, embora a vida seja cheia de possibilidades, tenhamos diversos talentos e lá fora brilhe um sol fulgurante sob mar azul sem fim.

Enfim, poderia continuar discorrendo sobre uma infinidade de mortes. Mas por me sentir muito viva agora, planejo a cerimônia que registrará a minha morte. Não quero carpideiras, mas os sons de leve música e algum choro sincero dos que sentirão a minha falta. O ritual do velório é muito mórbido, embora certo luto seja necessário para que os meus filhos reflitam o que significa para cada um deles a perda de sua mãe. Para internalizarem como querem guardar essa memória. Em um gesto solidário, ecológico e de celebração à vida, já doei os meus órgãos. Que minhas cinzas sejam jogadas em campo florido, enquanto o ar conduz belos poemas e cantos sobre a arte de viver. Viver em plenitude, saboreando os bons momentos, aprendendo com os maus e partilhando cada um deles.

E que venham outras vidas e suas respectivas mortes. Se elas existirem!

quinta-feira, 3 de março de 2011

ODÔ, ODÔ, ODÔ, ODOYÁ!

Seus olhos me viram dançando na beira das ondas ao som dos atabaques dos terreiros e desejaram serem câmeras a registrar aquele momento em que eu sequer supunha ser observada. Seu desejo era de, mais tarde, poder me mostrar essa tomada para que eu me lembrasse de como sou em estado de leveza. Desde o alvorecer até a minha saída para o café coletivo em que se tentava conscientizar os vizinhos a coletar as fezes dos seus cachorros, quando os levavam em passeio pela praça do bairro, eu vi tantas coisas...

Vi a venda de bençãos com preços tabelados, a profusão de fotógrafos disputando espaço e as devotas performáticas experimentando as melhores posições para serem fotografadas, muitos baianos em dia de festa aproveitando a oportunidade para ganhar um trocado, vendendo produtos diversos, desde cervejas, refrigerantes, até passeios de barco e fitas da filha de Olokum. Na saída, me deparei com a visão chocante de um homem dormindo na areia branca envolto em um lençol azul turquesa.

E de que vinha a minha alegria de longe observada? Do breve encontro de paz com uma das expressões da Mãe Divina (a mãe de todos os Orixás na tradição Iorubá), da certeza de que iria rever e abraçar alguns amigos, da constatação de que o número de presentes de plástico vem diminuindo a cada ano e do varal em que um homem e uma criança expunham uma amostra do lixo com que sujamos a casa daquela que é venerada no dia 2 de fevereiro - dia de festa no mar. É preciso mais do que isso?