quinta-feira, 27 de maio de 2010

PADRÃO 3S: É SEMELHANTE, É SUPERLATIVA, É SARAH


Ainda que dissonantes, somos todos semelhantes nesse mundo de meu Deus. Apesar disso, Narciso acha lindo e mergulha feliz nos espelhos d'água, quando se depara com gratas e suceSSivaS identidades. É o que acontece entre mim e essa menina, também feirense e aprendiz da arte de dizer versos. Em uníssono, nos lembramos do nome do antigo cinema que havia em frente à minha casa na rua Castro Alvez: Cine Timbira! Ele fechou suas portas sem que eu realizasse o sonho de comprar o bilhete mágico que me permitiria entrar em sua sala e viver as personagens da 7a. arte. Mais tarde, descobrimos que no Conservatório pertencente à sua família, tive a minha iniciação musical, aos 5 anos. Embora aos 50, depois de todos os concertos de piano realizados a partir dali, continue uma cantora frustrada, eu jamais quebrarei o vinculo estabelecido com a melodia das palavras e a necessidade de dar rítmo e compasso a tudo o que faço. Ela diz que quer ser igual a mim no futuro, eu penso que estaria muito além se pudesse voltar no tempo e me fosse concedido o desejo de ter seus 33 aninhos com tamanha sabedoria, disposição e alegria!

domingo, 23 de maio de 2010

ESCONDIDINHO


Li ontem uma matéria na revista "Vida Simples" sobre como incentivar as crianças a comerem alimentos saudáveis. Era introduzida com um relato do livro "O Amor nos Tempos do Cólera" de Gabriel Garcia Marquez. Embora já o tivesse lido duas vezes, não lembrava dessa passagem do romance. Nela, a personagem principal aceitava um pedido de casamento com a condição de que não fosse obrigada a comer berinjela. No entanto, jamais se casou com o pretendente e sim com um médico, a quem não julgava amar, ao constatar que poderia gostar de qualquer coisa quando, sem saber, havia se lambuzado com dois pratos de berinjelas amassadas em um macio purê.


Queria ter a revista em mãos para poder reproduzir o texto com as exatas palavras, mas a imagem da beringela escondida foi suficiente para me inspirar a retribuir um presente recebido de minha cunhada. Em meu último aniversário, ela teve a disposição e delicadeza de me escrever uma longa e linda carta, além de cultivar dois vasos com pequenas hortas contendo seis legumes plantados entre pedrinhas brancas, só para me dar algo feito por si, para mim. Certa de flechar o meu coração, ela tocou bem em sua aorta. Meu propósito é lhe presentear com convites para dois espetáculos,uma peça teatral e um show musical, que possam saciar, por algumas horas, a nossa fome de arte e beleza. Minha intenção é lhe mostrar que na vida simples, coisas como o afeto, a criatividade e a capacidade de cultivar a relação com o outro, nos aproximam imensamente. Escondidinho, não somos assim tão diferentes!






sábado, 22 de maio de 2010

A DAMÁRIO DACRUZ


POUPAR NUNCA MAIS

DAMÁRIO DACRUZ


NÃO POUPE GRANA
NÃO POUPE CAMA
NÃO POUPE GRAMA
NÃO POUPE FAMA


A VIDA SÓ CONFISCA
O QUE SOBRA SEM PROVEITO


A VIDA DÁ A OUTRO

O QUE É VOSSO POR DIREITO

De boas intenções, o inferno e a terra andam cheios.
De bons amigos, o céu e a terra vão ficando também...

Nesta tarde, as terras da cidade de Cachoeira recebem o corpo do amigo, jornalista, poeta e fotógrafo, Damário da Cruz. Muitos desses amigos partem tão de repente, que não dá para planejar nada em especial, ao pensar no fim. Outros, como ele, são acometidos por uma doença perversa que nos obriga a refletir que precisamos estar mais presentes, demonstrar companheirismo, revisitar a cumplicidade do passeio naquele barco, onde casais de namorados, em perfeito silêncio, prescrutavam o alvorecer dos pássaros em seus ninhais Pantaneiros. Aquele dia lhe inspirou a nos dar o seu "Tapa de Luva". Hoje, recebemos um tapa de arrependimentos: constato que não conheci o "Pouso da Palavra", não passamos o fim de semana planejado em Cachoeira com os outros casais amigos (Paulo e Belita, Armando e Denise), nosso grupo não apresentou o recital "Canto Quase Gregoriano" para que ele apreciasse as suas e outras poesias de poetas baianos etc.
Demos demasiado significado a algum detalhe da rotina diária e adiamos o encontro que ficará irremediavelmente inadiável. Como disse Inês, me fazendo lembrar Allan Poe, deixamos para depois o que será para NUNCA MAIS. Não por acaso, há algum tempo, eu vinha preparando o poema "POUPAR NUNCA MAIS". Não poderei mais falar esses versos para ele. O que seria uma homenagem ao vivo e a cores passou a ser um tributo virtual e de preto no branco. Assim, sem julgamentos apocalípticos, enquanto a mãe terra o recebe em seus braços, registro abaixo o saldo do balanço de nossas mesquinhas poupanças:




POUPEI DEMAIS


AO SEU AMIGO,
NÃO POUPE ABRAÇO
NÃO POUPE AFAGO
NÃO POUPE APREÇO
NÃO POUPE ABRIGO


A VIDA SEMPRE CONFISCA
O QUE NÃO FOI FEITO EM SEU PROVEITO.


A VIDA DELE É BEM CURTA,
ASSIM SERÁ A SUA. NÃO TEM JEITO.




quarta-feira, 5 de maio de 2010

MINHA SOGRA É UMA MÃE!


Um dia eu lhe perguntei: “D. Wanda, por que a senhora me deu o menos prendado dos seus filhos? Ao contrário dos outros, não é organizado, não conserta guarda-roupa, fechadura de porta, telefone quebrado, antena da televisão...” Ela me fitou com olhos miúdos por detrás das lentes dos seus óculos de grau e falou: “Quando você chegou, só tinha ele”.

Depois de algum tempo, quando lhe repeti a reclamação, ela completou a resposta com: “Mas ele tem outros talentos!” Da derradeira vez em que me aventurei a lhe fazer a pergunta, junto com um sorriso saíram de sua boca as palavras mágicas: “Ele faz poesias.” Ela era danada mesmo! Tinha me dado uma rasteira daquelas. Afinal, não seria eu a querer trocar a habilidade de lidar com o mundo encantado e melodioso das palavras, pelo manejo com parafusos, alicates e serrotes. Dada a situação, só me coube dizer: “Tudo bem, está perdoada”.

Além de ter a qualidade indispensável a toda boa mãe, de saber valorizar as singulares qualidades de cada um dos quatro filhos, minha sogra possui um jeito pacífico de lidar com as situações e um senso de observação capaz de avaliar qual a maior área de interesse de cada pessoa da família. Posso garantir isso, em especial, pelas suas três noras. Por quê? Porque sou a preferida, é claro!