sábado, 22 de maio de 2010

A DAMÁRIO DACRUZ


POUPAR NUNCA MAIS

DAMÁRIO DACRUZ


NÃO POUPE GRANA
NÃO POUPE CAMA
NÃO POUPE GRAMA
NÃO POUPE FAMA


A VIDA SÓ CONFISCA
O QUE SOBRA SEM PROVEITO


A VIDA DÁ A OUTRO

O QUE É VOSSO POR DIREITO

De boas intenções, o inferno e a terra andam cheios.
De bons amigos, o céu e a terra vão ficando também...

Nesta tarde, as terras da cidade de Cachoeira recebem o corpo do amigo, jornalista, poeta e fotógrafo, Damário da Cruz. Muitos desses amigos partem tão de repente, que não dá para planejar nada em especial, ao pensar no fim. Outros, como ele, são acometidos por uma doença perversa que nos obriga a refletir que precisamos estar mais presentes, demonstrar companheirismo, revisitar a cumplicidade do passeio naquele barco, onde casais de namorados, em perfeito silêncio, prescrutavam o alvorecer dos pássaros em seus ninhais Pantaneiros. Aquele dia lhe inspirou a nos dar o seu "Tapa de Luva". Hoje, recebemos um tapa de arrependimentos: constato que não conheci o "Pouso da Palavra", não passamos o fim de semana planejado em Cachoeira com os outros casais amigos (Paulo e Belita, Armando e Denise), nosso grupo não apresentou o recital "Canto Quase Gregoriano" para que ele apreciasse as suas e outras poesias de poetas baianos etc.
Demos demasiado significado a algum detalhe da rotina diária e adiamos o encontro que ficará irremediavelmente inadiável. Como disse Inês, me fazendo lembrar Allan Poe, deixamos para depois o que será para NUNCA MAIS. Não por acaso, há algum tempo, eu vinha preparando o poema "POUPAR NUNCA MAIS". Não poderei mais falar esses versos para ele. O que seria uma homenagem ao vivo e a cores passou a ser um tributo virtual e de preto no branco. Assim, sem julgamentos apocalípticos, enquanto a mãe terra o recebe em seus braços, registro abaixo o saldo do balanço de nossas mesquinhas poupanças:




POUPEI DEMAIS


AO SEU AMIGO,
NÃO POUPE ABRAÇO
NÃO POUPE AFAGO
NÃO POUPE APREÇO
NÃO POUPE ABRIGO


A VIDA SEMPRE CONFISCA
O QUE NÃO FOI FEITO EM SEU PROVEITO.


A VIDA DELE É BEM CURTA,
ASSIM SERÁ A SUA. NÃO TEM JEITO.




4 comentários:

  1. Damário da Cruz... Um ícone da juventude baiana dos anos 80.

    ResponderExcluir
  2. Vera, você tem uma sensibilidade incrível, ainda que nos cutuque muito!
    O que vejo, em você, é o contrário dessa poupança.
    Você vive intensamente, ama intensamente, e e amiga intensamente.

    Beijos e meu carinho

    ResponderExcluir
  3. Textos sem a mínima necessidade de críticas, sejam elas boas ou não, o que de fato cabe dizer e que seu sentimento é lindo e que ele está impregnado tanto no seu verso quanto na sua prosa.
    Não conhecia Damário da Cruz, mas o agradeço por existir.

    Beijos Vera

    ResponderExcluir
  4. Vera, quero ser mais inteira em tudo que eu faço e deixar o afeto guiar meus passos, minhas escolhas, minhas verdades. O incrível Damário vai, diz para não nos poupar; você faz este texto, confessa economias indevidas, eu leio e só me resta dizer: não, não posso querer pouco da vida, esta dimensão gigante da existência que pede para nos entregarmos, sem cálculos, ao movimento que nos anima o peito.

    Estou em brasa.
    Beijos muito carinhosos,
    Sarah

    ResponderExcluir

Sem muitos gerúndios, longas esperas e musiquinhas, o seu comentário é, de fato, importante para nós! Fique calmo, pois não vamos desligar a nossa ligação virtual, ok?