quarta-feira, 27 de novembro de 2013

O QUE HÁ DE RACISMO EM MIM?


Hoje é o segundo e último dia da JORNADA DAS RELAÇÕES ÉTNICAS E RACIAIS do campus Salvador do IFBA,  no qual se homenageia Abdias do Nascimento. A comissão organizadora tem como presidente o professor e poeta Wesley Correia e vice-presidente, a professora Sônia Brito. Tive o prazer de participar das atividades de ontem, entre elas, uma excelente aula/apresentação de dança da professora da UFBA, Leda Maria Ornellas. No mês da consciência negra - assim como em todos os dias dos demais meses do ano - penso  ser que a pergunta essencial para cada um dos brasileiro se fazer é: o que há de racismo em mim?
Fui convidada por Wesley a participar do Itepé de Poesia apresentado pelo professora Juracy Tavares, em que seria lançado o livro DEUS É NEGRO. Infelizmente, como a atividade começou ás 2I h, o auditório estava esvaziado, mas fiquei gratificada com a qualidade das demais apresentações, com o pouco que pude aprender da cultura afro-brasileira e as reflexões que a oportunidade me provocou. Só apresentei duas poesias do livro de Wesley. A primeira que escolhi para apresentar me ensinou que: 

I) EKEDI ALAKETU,  é a filha principal da casa que não passa pelo transe e que foi iniciada em um terreiro pertencente à nação Ketu Ela é a correspondente feminina de OGÃ, o título do escritor Jorge Amado.

2) MOJEBÁ ou MO JUBÁ é uma expressão em Yorubá que significa  meus respeitos. Essa é uma saudação feita a EXU e à POMBA GIRA. Nessa cultura, EXU representa o mensageiros entre os humanos e os Orixás. na cultura Nagô.

A primeira reflexão foi do quanto, na minha infância, me impressionaram as 7 imagens em madeira de Cristo com características orientais da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, em Cachoeira, cidade do estado com cerca de 80% de população negra.


Assim que li sobre a condição de EXU como um mensageiro, o associei a Hermes, o filho de Zeus e Maia e mensageiro entre os humanos e os Deuses, cuja imagem é apresentada com um chapéu de abas largas, sandálias de ouro com asas e um cajado denominado caduceu. Isso se deu porque conheço um pouco das mitologias grega e romanas e sou totalmente ignorante da mitologia Afro. Não me são estranhos os nomes Prometeu, Apolo, Ariadne, Cupido ou Eros, Psiquê, Pandora, Hera, Hércules, Zeus dentre outros, mas nada sei  além de que sou de Oxossi e Yemanjá. Sequer sabia que Logunedé é filho de Oxossi e que Okum é mãe de Yemanjá. Vários dos nomes dos deuses dessa mitologia me são familiares, mas desconheço seus significados e histórias.   

Em 2003, quando aprovada a lei que obrigava  o ensino da "História e Cultura Afro-brasileira e Africana"  porque eu não me motivei a incluir isso nas minhas aulas de Matemática e mais tarde, de Inglês, um dos onze idiomas do pais de Nelson Mandela? Sempre fui contra a importação de valores americanos ou ingleses na nossa cultura, mas poderia ter utilizado textos da cultura afro nem que fosse no mural que mantinha para estimular a leitura em inglês dos alunos. Concluí que houve desinteresse de minha parte quando conheci os professores Magno Santos e Jackeline Amor Divino, que apresentaram uma oficina sobre SUDOKU, JOGOS E GRELHAS: BRINCANDO COM "RAÇA", LÓGICA, CIÊNCIA E ETNOMATEMÁTICA. Eu, como membro da SBEM, vi palestras e li trabalhos de expoentes da  Etnomatemática como seu fundador UBIRATàD’AMBRÓSIO e Sérgio Nobre, tinha a obrigação de buscar me apropriar e disseminar esse conhecimento.

Em uma mesa temática, sobre Arte e Militância: diálogos e perspectivas, coordenada pelo professor Breno Dias e cujos convidados eram Jorge Washinton do Bando de Teatro Olodum, a dramaturga Fernanda Júlia Barbosa e a cantora Margareth Menezes, ouvi a última usar o termo denegrir e defender a liberdade de negros usarem os cabelos  raspados, esticado e ou aloirados, como se não houvesse uma representação simbólica nisso e como se imposição midiática e comercial fossem sinônimo de liberdade. Nesse momento, também me dei conta de que as duas mulheres que trabalharam por dez anos em minha casa ainda são chamadas por mim de minhas empregadas. Ao final, fomos presenteados com uma apresentação da excelente cantora de duas muito oportunas músicas.


"Um indivíduo sem raízes é como uma árvore sem raízes ou uma casa sem alicerces. Cai no primeiro vento."    Ubiratã  D’Ambrósio