terça-feira, 18 de março de 2014

O MUNDO É MESMO VIOLENTO...

Esse texto foi motivado pelas postagens de um vídeo do professor e colega, Lamartine, e da amiga, Parguaçu Brazil, que reproduzo abaixo.

POLICIAL MILITAR CALA A BOCA DE DETENTO:
 https://www.youtube.com/watch?v=5QJPXiXxd-Q


O ESTADO DEPLORÁVEL DOS PARQUES DA RIBEIRA EM SALVADOR:



        Comento ambas as postagens, contando um fato que me ocorreu, antes das 10h da manhã de ontem, em uma agência do BB do Rio Vermelho. Entrei nela para pagar a mensalidade da escola de minha filha, estudante do 1o. ano do Ensino Médio do Colégio Maristas Patamares (mais de R$1.200,00 essa mensalidade subtrai do meu salário de aposentada, além do sofrimento de saber que eu ensinei nesse mesmo ano em uma escola pública e de melhor qualidade). Ao entrar na agência, notei que um policial fardado, usando um dos caixas eletrônicos, virou-se imediatamente para a porta. Fiquei surpresa e lhe disse que provavelmente fazia aquilo todas as vezes em que alguém entrava no banco, porque ele seria o primeiro alvo de um possível bandido. 
Ele me respondeu: - assim que um deles aparecer, eu encho ele de balas!
Nossa conversa se estendeu por caminhos que não me lembro agora, até que ele, já de saída, me afirmou: o governador não gosta de baiano,ele não é baiano!
Perguntei-lhe se era verdade que Jacques Wagner não era baiano.
Ele respondeu com a informação de que o  "nosso' governador é carioca.
Mas os baianos não estão fazendo melhor trabalho, retruquei: ACM Neto é baiano e estamos vendo o estado de Salvador, apenas sendo consertada para turista ver.
Ele respondeu que João Henrique era pior.
Eu, concordei e acrescentei que o pior não deveria ser a nossa referência.
Ele disse:  pelo menos ACM Neto está começando a consertar a nossa cidade.
Eu: consertando os bairros nobres, vá ver na periferia como as coisas estão...
Ele: tem que começar por algum lugar.
"Não entendo o  porquê de começar logo por lugares onde se precisa menos de melhorias"- eu lhe respondi.
Ele me perguntou se eu tinha visto como o governador havia  tratado os professores e, nesse momento, uma outra correntista entrou no 'diálogo alterado', dizendo que era professora também e concordava. Eu, apesar de ter pensado no terror provocado nos soteropolitanos, durante  a última greve de policiais, nada falei sobre esse episódio.
O policial se foi e a outra correntista disse fatidicamente:  o mundo é mesmo violento...
Eu concluí a conversa perguntando, quase apenas para mim mesma, se não valeria um esforço individual, em cada um de nós, de sermos menos violentos...

           Fico sempre muito perplexa quando vejo as pessoas se referirem ao mundo, ao país, ao estado, à cidade, aos seus bairros e até aos seus condomínios, como se fossem entidades animadas que se movimentassem sem as suas ações e influências. Ouvi muitos comentários desses, quando estava ensinando no IFBA e as pessoas se referiam à escola como coisa exterior, da qual não faziam parte. Eu lhes perguntava se a escola são suas paredes, seus quadros negros, seus retroprojetores, suas carteiras e seus computadores etc. Quem faz a escola são os seres que nela agem diariamente, como suas ideologias, expectativas, subjetividades e ações por elas guiadas. Saber-se responsável pelo mundo em que vive é indispensável para qualquer professor e sua tarefa imprescindível é estimular os alunos a uma reflexão sobre o tema, sobre como cada uma de nossas escolhas traz um impacto sobre as realidades em que vivemos e podem transformá-las tanto no sentido em que acreditamos ser o melhor, quanto no sentido contrário às nossas convicções. Há ainda o fato de que, como seres sociais que somos, nem sempre as nossas ações criarão os resultados que julgávamos ser consequências previsíveis delas...  No entanto, o esforço de tentar pensar em que direção estamos levando as nossas vidas sempre é importante e válido, disso tenho uma das poucas certezas que me restam...

2 comentários:

  1. A experiência diz que o que faz inibir o crime é a certeza da punição e não a dureza de uma pena incerta. Aumentar o rigor da lei não adianta nada, basta ver o que acontece com a Lei Maria da Penha. Começou bem e depois recuou. Este país (como qq outro) não precisa de mais leis e sim de pessoas que cumpram as já existentes (que já são muitas).
    Também acredito que para a sociendade funcionar melhor é não enfraquecer as instituições. Elas são as referencias de perenidade e de sustentação psicológica de uma sociedade. Quando certos grupos enfraquecem (propositalmente) o Supremo Tribunal Federal, a Igreja, a família, etc, dá a sensação de que ocorreu uma quebra no "Contrato Social". Este documento tácito estabelece relações civilizadas entre os homens mas, se é enfraquecido, o que passa a valer é a barbárie já dita por Thomas Hobbes quase 100 anos antes de J. J. Rousseau.
    Tem um trecho ótimo do livro "Guia politicamente incorreto da filosofia" de Luiz Felipe Pondé que diz:

    "Para Rousseau [na verdade, o pai da esquerda], o homem nasceu bom, e a sociedade é que o estraga. Daí ele propor que devemos fazer uma sociedade em que os pobres mandem, porque eles tiveram menos sucesso com a sociedade corrompida existente. A chave da análise de Rousseau está na suposição de que nossa natureza “pura” só deseja o que é necessário. Os ricos puderam desejar além do necessário e foram corrompidos, os pobres não. Um governo dos pobres seria, portanto, menos corrompido. O próprio culto à ideia idiota de que deveríamos “aprender a viver” como os índios, os aborígines e as tribos africanas que vivem ainda no Neolítico advém dessa bobagem rousseauniana e da versão retardada do mal-estar romântico de que falamos antes. Apesar de hoje já sabermos que pobre pode ser tão ruim quanto rico, e que índios estão muito longe de ser sábios cultivadores de virtudes morais e naturais, a praga PC (Politicamente Correto) ainda insiste em dizer que a farsa de Rousseau, o tipo de pessoa que ama a humanidade, mas detesta seu semelhante, é verdade. O fato é que todo mundo gosta de ouvir que é bom e que os outros é que o fazem ser mau e infeliz.
    Podemos ver que a literatura de autoajuda para elevar nossa autoestima é derivada dessa mentira de Rousseau: somos bons, basta que nos seja dada a chance de assim o sermos. Por isso que a felicidade vendida por esse mercado da autoestima sempre começa pela afirmação de que somos capazes e termina com a que tudo dará certo. Não passa de um produto tardio e barato do velho fetiche burguês de querer acreditar em seu potencial. A própria ideia de dizer, como na educação, que todos os alunos são iguais e têm competências é fruto dessa mentira. Não, alguns poucos carregam a aula e o mundo nas costas."

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  2. Lamartine, concordo plenamente que não é a quantidade de leis que determina o comportamento dos cidadãos, mas o fato de haver impunidade ou não a aqueles que as infringe. Acredito que nenhuma ideia, sistema filosófico ou tese comprovada cientificamente é 100% válida ou equivocada e não seria diferente com o filósofo Jean Jaques Rousseau. Somos sim bons, solidários e até inocentes frutos da natureza, mas também somos maus, egoístas e competitivos. A questão me parece estabelecer individualmente o que queremos desenvolver mais e das sociedades também serem reguladas moral e eticamente para encorajar o que há de melhor em suas populações. Mais aí entram os conceitos subjetivos de bom e mau...para indivíduos, governantes ou cidadãos. A nível pessoal, acho que esse processo muda conforme as impressões das experiências pessoais, familiares, escolares e sociais que cada indivíduo viveu, como as interpretou e absorveu. No âmbito social, acontece algo semelhante, mas ainda mais complexo por conta das interações, por ser ele um ser social e aí entra a história de um (im)possível contrato social. O mundo está por demais complexo, a teoria do caos seria talvez a que melhor o explicaria: não devem haver mais índios puros - estou lendo sobre sociedades remotas que mantêm o matriarcado e sei que possivelmente elas sofreram modificações mesmo existindo pouquíssimos contatos com o mundo externo - nem sociedades rurais como as idealizadas. Divergem sobremaneira as formas que cada indivíduo concebe de atingir as sociedades ideias e é por isso que lutam ideológica e politicamente - no sentido mais puro dessas palavras tão desgastadas no tempos atuais. Bom conversar com vc, porque argumenta com mais embasamento teórico do que eu. Acho também que o nosso colega Sinval Silva de Araújo tem muito a contribuir a uma conversa dessa natureza. Um abraço.

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