Quem não se lembra dela?
1) da propaganda da VALISÈRE? Eu me lembro de uma garotinha que saía pelas ruas repletas de transeuntes com um olhar de extrema alegria e cúmplicidade consigo mesma, agarrada, não mais à sua boneca, mas a uma prancheta para esconder os seus peitinhos, agora e, enfim, envoltos no seu primeiro soutien...
Nascida Vera Lucia da Cunha Passos, eu comprei o meu primeiro soutien escondida da minha mãe. Isso aconteceu porque ela, para me controlar, me obrigava a usar corpete (uma espécie de camiseta de malha usada por baixo das bluas) e me colocou em uma classe em que eu era a aluna mais nova, logo a única que não tinha peito nem precisava de soutien. A minha cúmplice nessa grande experiência de vida e passo em direção à feminilidade e o mundo adulto foi a lavadeira Iara - a rainha das águas da casa - com seus cabelos lisos e longos e, paradoxalmente, a mulher que tinha mais seios que eu conheci. Eram tantos seios que precisou, bem mais tarde diminuí-los porque seu peso afetara a sua coluna vertebral... Sim, na época não colocávamos implantes de silicone, nós escondíamos os nossos seios, quando nos pareciam estranhos à nossa cultura de mulheres arredondadas só na parte inferior do corpo - o modelo latino, o brasileiro. Hoje, como todos sabem, importamos o modelo americano e a grande maioria das mulheres coloca silicone... mesmo aquelas que já haviam recebido o título de Miss Brasil como a minha homônima Vera, a Fisher. Parece-me que os seus precisam sair como setas, flechas ou FALOS no jogo ou na guerra de sedução e poder entre homens e mulheres.
A época hoje dispõe de vários recursos para esconder ou negar os próprios seios. Há inúmeros disfarces: soutiens de bojo resgatados e modernizados da história de nossas avós como o foram os espartilhos atuais. Tem aqueles com base de arame, os de bojo com enchimento, os falsos peitos de silicone que podem ser colados sobre os verdadeiros, lhes dando volume bem maior... até chegarmos à opção mais extrema: o implante cuja matéria prima vem dos EUA (essa deve ser uma das poucas matérias primas que importamos de lá... porque a via, o caminho usual entre matéria prima e materiais processados tem o sentido inverso)!
Lembro-me tanto desse meu primeiro soutien... ele era cor de rosa, tinha rendinhas e um lacinho bem no meio... eu o guardei na gaveta do quarto de empregada, da Iara das águas e da história... *
E quem não se lembra dela?Eu me lembro de uma ruiva com uma voz muito estranha e fanhosa que marcava os nossos ouvidos como unhas arrastando-se sobre um quadro de giz e dizia: vocês lembram da minha voz? Ela continua a mesma, mas os meus cabelos... quanta diferença!
Quando criança eu tinha cachinhos, depois, na adolescência, os meus cabelos ficaram mais lisos e eram sempre presos pela minhã mãe em um laçarote para que eu aparentasse ainda uma menina. Depois eram presos por elásticos (nada de Xuxas). Minha mãe era a dona da minha vida e os simbolizava através do controle dos meus cabelos. Ela decidia quando, quanto e onde os cortar e eu apenas obedecia as suas ordens imperiais. Na adolescência, apareceu a moda do cabelo cortado em camadas e as minha colegas os cortaram... e eu, a formiguinha da sala, só as admirava por essa autonomia e beleza. Até aquele dia.. em que eu fui, escondida é claro, até um salão próximo à rua Castro Alves, onde morava e também soltei e cortei os meus cabelos em camadas!
Lembro-me do furor e dos elogios das colegas do colégio Sacramentina, quando me viram com o novo estilo e, mais do que tudo, da alegria interna que eu experimentava. Mas... tem sempre um mas em nossas vidas... minha mãe me pegou bem estratégica e disfarçadamente pelo braço e eu só me dei conta de tudo, quando estava em frente a um espelho com outra cabeleireira com tesoura em riste para dar a solução materna desejada naquela rebeldia e desalinho. Esta destruiu os meus cabelos e eu me vi tão horrível e desrespeitada que tive um descontrole emocional que causou a minha primeira menstruação. Acho agora que, como me impediam ou eu não tive forças para demonstrar que já era uma mulher por fora, meu corpo explodiu dando o sinal de que eu precisava ser uma mulher, ao menos por dentro! Minha mãe, muito cientificamente, constatados os fatos e o sinal vermelho da situação, me levou a uma ginecologista, para que ela me explicasse o que significava aquele sinal em sangue. Eu, muito obedientemente, fingi que não sabia de nada e voltei para a casa de onde iria embora, dois anos mais tarde, para enfrentar sozinha a minha vida, controlar o meu corpo e descobrir quem eu era de verdade. E, por fim, para escolher o(s) homem(ns) que teria(am) a permissão de tocar esse corpo que envolvia uma alma sagrada - só tocada por um deles.
E devo dizer que esse caminho passou pelos neros, pelos bobs com os quais dormia e ia para a praia de Cacha-pregos no dia seguinte, até que eu fosse capaz de soltar a minha juba (pois os sucessivos cortes mudaram os cabelos e eu voltei a ter cachos... muitos cachos), a ter e mostrar a minha juba de leoa, a minha liberdade de pássaro e os meus mistérios de esfinge.**
* tenho orgulho de ter amamentado, com meus peitinhos a minha filha, nascida prematuramente, por 10(dez) meses. Ao lhe lembrar que o seu primeiro soutien foi costurado e dado pela sua avó, aquela, a minha mãe... minha filha me relembrou que o seu primeiro soutien com bojo eu comprei e dei para a sua prima Diana, que era maior do que ela, embora tenham nascido no mesmo ano, mas... ...,mas ele não deu na minha sobrinha e terminou ficando para ela, a sortuda!
** finalmente, em junho passado, eu sucumbi às súplicas da minha filha de que queria alisar os seus cabelos encaracolados (eu e sua tia Vânia a chamávamos pelo apelido de Caracol, numa tentativa de que aceitasse os cachinhos de menina), não mais diariamente com o fazia e com a pente de fogo, digo com a prancha, que comprou com a sua mesada... Ela estava disposta a pagar o seu alisamento com um processo químico e sem formol. Então, antes de ir para a sua viagem de debutante com origem no Brazil e destino na Disney da USA, eu precisei apanhá-la pela mão e a levar a um salão para garantir que iriam fazer um trabalho menos danoso ao seu visual.
CONCLUSÃO DAS HISTÓRIAS:
É PRECISO TER MUITO PEITO PARA SER MULHER NESSE MUNDO E NÃO SE DEIXAR ESMAGAR COMO BARATA, OU CUCARACHA, COMO SÃO DENOMINADOS OS LATINOS PELOS NORTE AMERICANOS E...
...É PRECISO TER A FORÇA DE UM SANSÃO E CABELOS REVOLTOS PARA ENFRENTAR A BATALHA DESIGUAL,AQUELA QUE TANTO NOS CONFUNDE ENTRE OS MODELOS DE MACHOS E FÊMEAS PARA CONSEGUIRMOS A COMPREENSÃO E FELICIDADE DA SINGULARIDADE E COMPLEMENTARIDADE DOS GÊNEROS!
(...continuando, agora- já à noite do mesmo dia- minha filha pesquisou os comerciais originais para mim, então passaremos do plano das lembranças para o plano da recuperação histórica do mundo virtual):
Comercial da Valisère:
Comercial da Colorama:
http://www.youtube.com/watch?v=A2ALKyLK82A
ACRESCENTANDO AS ÚLTIMAS NOVIDADES SOBRE O TEMA
this girl is on fire http://www.youtube.com/watch?v=mMp80G2q1Ks
Entrevista bombástica http://www.youtube.com/watch?v=sHs8YKFdhSQ
as amigas http://www.youtube.com/watch?v=ybcrIA5ICLo
vers]ao masculina de Beonce http://www.youtube.com/watch?v=WGX0HQdDij4
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