quinta-feira, 24 de junho de 2010

10 ANOS DO POUSO DA PALAVRA


Cumprindo promessa feita mais a mim do que ao poeta, enfrentamos a estrada em véspera de festejos de São João rumo a Cachoeira para o Aniversário de 10 anos do Pouso da Palavra. Engarrafamentos na estrada fizeram com que nosso percurso se alongasse por 2 horas. Depois de nos alojarmos na bela Pousada do Convento, uma construção do século XVII, contígua à uma igreja cujos quartos com largos corredores ficam voltados para um pátio quadrado com um amplo jardim. Faz lembrar o Retiro de São Francisco, em Brotas, que, infelizmente, tem passado por dificuldades de manutenção.

A Pousada do Convento fica localizada bem próximo do casarão que abriga o Pouso da Palavra. Em seu andar superior, há uma sala, uma cozinha, alguns quartos, um banheiro e uma varanda. A
partir da varanda, a escada posterior dá acesso ao jardim gramado do quintal, cujos muros estão cobertos de heras, onde ficam as várias mesas do café literário. além de um barco de madeira encalhado na terra. Uma pequena varanda liga esse jardim à parte interna da casa, onde estão localizados o bar, o atelier e a galera de arte na entrada da construção. Toda a decoração é feita com móveis e objetos antigos selecionados, sendo que alguns estão expostos para venda.

Fomos recepcionados por Graça. Os longos nove anos de afastamento não impediram que nos recebesse com imenso carinho e alegria. Depois de nos mostrar o casarão e contar um pouco da história de sua reforma, começaram a chegar os convidados para a festa. Uma banda de sopro tocou os parabéns, depois de um pequeno coquetel, quando foram servidos acarajés, amendoins cozidos, ponches e o bolo de aniversário. Emocionada, Gal contou que o último pedido de Damário foi para que não deixasse o Pouso morrer. Justificou que há quinze dias, vasculhando as anotações pessoais dele, encontrou o planejamento dos 10 anos do espaço, o que a motivou a preparar tudo para realizar o seu desejo. Alguns poetas e amigos deram depoimento e leram poesias. A pedido dela, falei "Todo Risco", "O Ofício da Paixão" e "Poupar Nunca Mais", declarando estar feliz por não ter poupado esforços de estar ali naquele momento.

Fui convidada a organizar, em Setembro, um grande recital de Poesias lá no Pouso. No final da noite, conclui ser necessário fazemos mais programas como esse: inusitados, extravagantes... e românticos.

sábado, 19 de junho de 2010

EM ROMA: CIRCO! NO BRASIL: COPA!


Paradoxalmente, demos os primeiros passos em direção ao retorno à democracia com o pé direito. No ano de 1989, houve eleições diretas para presidente. Fosse mantido o calendário, não haveria mais coincidência entre Ano Eleitoral e Copa Mundial. Mas tinham que mudar isso, não é mesmo? Assim estamos vivendo mais um daqueles anos em que a torcida canarinho se une, enquanto fora do campo o jogo político corre solto.

Não lembro em que ano eu comprei uma camisa com a bandeira brasileira e não a usei para assistir a jogo algum. Mais tarde, nos dias de votação para os dois turnos em que escolhemos 0 presidente, os senadores e governadores, eu me vesti de verde e amarelo. Revoltada, também já apostei contra a nossa seleção. Perguntei quais os times adversários que tinham maiores chances e ganhei do meu tio uma caixa de chocolates na última vez em que a Itália se fez campeã.

Espremidos entre o maus políticos e os craques da bola, estão os trabalhadores do país. Os primeiros fazem suas alianças, fixam suas bancas dos caixas 2 e contratam marqueteiros para que maqueiem toda a sujeirada. Os segundos são considerados heróis nacionais, possuem retórica igualmente limitada, ganham salários ainda mais vultuosos e ainda recebem uma gratificação para jogarem direito. Entre eles o povo, bancando a farra de ambos, assiste aos jogos pela tv, sem receber bicho que lhe garanta habitação, saúde e educação de qualidade.

Sem muito idéia do que fazer, já comprei a bandeirinha para o carro. Devem imaginar quando vou usá-la. Precisei estabelecer um critério de seleção, dada a quantidade de ambulantes disputando as vendas na sinaleira: decidi pela mais magra das mulheres. É isso, meu povo, nossa gente continua nas ruas das cidades e nada lhes garante que em quatro anos será diferente!

segunda-feira, 14 de junho de 2010

QUEREM VER SIRLENE RIR?


Sirlene agradece aos que contribuiram com o valor inicial (R$500,00) para a construção de sua casa. Todos estão de parabéns pelo gesto de carinho e solidariedade demonstrado, mas alegre como ela, está a minha querida comadre Belzoca. Ela foi a felizarda ganhadora da colcha feita pela minha tia materna Ovídia Maria, usando a técnica chamada pelos mais simples de taco ou retalhos. Como orienta o marketing, eu usei a palavra "pathwork", querendo valorizar o produto e conseguir mais adeptos compradores dos bilhetes da rifa. O fato é que ela é muito linda e vai cair bem, tanto no friozinho de Salvador, quanto naquele um pouco mais intenso de Brasília, onde mora a premiada. O pé de cabra da história, acho que foi Ciro, porque seus padrinhos estão diretamente envolvidos no número sorteado: o seu padrinho Tadeu Coqueiro foi aquele que primeiro se dispôs a comprar dois números da rifa, mas foi a sua madrinha Isabel, quem, tendo comprado apenas um bilhete, vai ficar agazalhada debaixo da coberta colorida. Em tempo de São João, nada como saudar compadres.

APROVEITE BEM SEU PRESENTE, COMADRE ISABEL!

sábado, 12 de junho de 2010

DESCALÇO E DESCUBRO

E aqui estou, tocando.
Não sou poeta, e como a água, sigo o rio em vários compassos.

Procurei no céu a indicação de minha trajetória.
Não vi nada, porque a cegueira suicida apagou
o brilho
das estrelas entre nuvens.

Venho de longe. vou não sei para onde.
Procuro no ar os sinais do meus passos pelos caminhos.
Meu canto, velho irmão do vento, soa como um eco,

mas há quem o escute.

Vi os nossos rastros pelo chão sumindo..
.
Se
estou aqui cantando,
é que no
peito, os laços venceram, como, nos ombros, as sementes andavam.

Ah, não sei quem sou ou para onde vou.
E ainda assim, alguém gosta de mim.

(Texto baseado no Poema "Discurso" de Cecília Meireles: http://www.casadobruxo.com.br/poesia/c/discurso.htm )

quinta-feira, 3 de junho de 2010

DE VOLTA À FONTE

De sua fonte, recebi o meu umbigo enroscado com os umbigos dos meus dois irmãos. Como sempre, me fiz de forte, inventei piada, deixei o pacote com fotos dos nossos filhos, documentos, xingamentos e pequenos bilhetes da infância sobre a estante e fui viver a vida pacata como se nada me abalasse. Adiei a sessão em que desfaria o laço, abriria o despacho, passaria cada página do passado, revelando seus significados no fundo d'alma e buscando dar-lhes novos.


Mas o correio da vida continuou a me enviar seus recados até que a última gota do líquido amniótico fez cair o pacote sobre a minha cabeça. E a dor foi tão forte e funda que me pôs em posição fetal sobre a cama no escuro do quarto. Era só o desespero e a falta de coragem para respirar a vida. Não queria buscar ajuda de médico, anestésico, apenas negar o momento ou encontrar explicação racional em fato próximo que justificasse a letargia, o cansaço.



Bastou apenas um passo e outros braços deram força para transformar o pacote em presente resignificando cada um de seus itens. Não vou ser mais o baú da família: estou entregando a cada um, a parte que lhe cabe. As imagens das crianças foram incorporadas aos álbuns de família. Os umbigos serão enterrados em um ritual com os quatro elementos. Sobre a terra será plantado um girassol – a planta da vida - cuja semente será selecionada e doada por uma prima bióloga. Enquanto o vento marinho soprar sobre essa terra, o sol vai orientar o florescer dessa pequena muda que regarei com a água, para que purifique os caminhos de todos.

“Mas existe também a coincidência de amor. Os dias em que o amor transita e é nosso. Minhas palavras pousam o sol sobre tua pele. E o teu sorrido desmancha o frio e os segredos. É uma estação de brilho, tempo de dar atenção ao desfile de flores e alguns sons que agradam. Tempo de ativar as matérias de sonho. O calendário nos deu esta primavera e faz das noites, noites de inverno. Para que o frio convide os corpos ao aconchego. E que haja cores outonais, festival de folhas aos nossos pés. Cobertura de arte, no caminho que percorremos juntos. Existe o tempo em que o amor é fruto. A terra nos abriga. Existe o tempo em que o amor nos inventa. E pousa as mãos de vida sobre nós.”
(Pétalas, trecho extraído do livro FÁBULAS DELICADAS de Eliana Mara Chiossi -Ed. Escrituras)