FORRÓ, UM SOPRO DIVINO
Em um vídeo recém recebido (https://www.youtube.com/watch?v=4UrGfuw6GN4), Dominguinhos nos mostra cinco tipos diferentes de ritmos que são tocados durante os festejos juninos: forró pé de serra, baião, xote, arrasta pé e xaxado. Eu até consegui me lembrar do Falamansa que toca o chamado forró universitário, ao qual ele não se referiu, mas confesso que sequer consegui gravar qual deles é o embalo que tanto gosto de dançar com meu benzinho, seja em uma sala de reboco ou não. Afinal, essa matéria não passa pelo túnel nebuloso do intelecto, desliza pela via verdejante do corpo, esse mistério que me carrega e que insisto em naturalizar como se apenas uma carcaça fosse. Mas ele resiste e sela sensações e memórias: da minha aorta alçando voo enquanto deslizo na pista, conduzida por suas mãos com aqueles seus dedos beijando os meus como colibri em pétala recém orvalhada, do meu quadril que tenta avançar entre suas pernas exatos 2,25cm a cada toque da zabumba... Ahhh, e de sua voz ecoando em meu ouvido, acompanhando a música daquele jeito desafinado e gostoso, distoante não porque é experimentação bossanovista, mas porque é carimbo dessa marca registrada que é só sua. E tem a memória de mim também. De me dizer: “Veja, Vera, ele tá tão feliz!”; “Ele também faz seu movimento pra se roçar em você, e requebra, requebra, requebra macio”; “Sinta bem, registre o momento, guarde a sensação de que ele requebra nesse compasso de alegria que, com a caneta dos pés, traça a frase: “Olha, que isso aqui tá muito bom, isso aqui tá bom demais...”
E no almoço do dia seguinte, quando nossa filha pergunta como
foi a reza pra Santo Antônio e o forró que a seguiu, lembro do Sto Antônio que ele me deu em um nicho com florzinhas de metalacê eo bilhete: "Você tem muito a agradecer a ele!" Mas é nesse momento que ele me desafia: “Qual foi mesmo a música
de que eu mais gostei, ontem?” Eu saio correndo desesperada a pesquisar e lhe
respondo sem qualquer certeza, achando que dei um chute que no máximo vai bater na trave:
“Debaixo do barro do chão da pista onde se dança, suspira uma
sustança, sustentada por um sopro divino...”
Nessa hora ele ri satisfeito comemorando a minha excelente
memória e sabedoria sobre esse ser incognoscível que ele é. E é claro que concordo
totalmente com essa sua conclusão, afinal não sou boba nem nada! Eu só sei
que:
Eu não sei do arrasta pé.
Eu não sei do forró pé de serra.
Eu não sei do baião.
Eu não sei do xote.
Eu não sei do xaxado
Eu só sei que estava lá. E ainda estou!
Veroca, vc faz da sua vida uma eterna poesia. Como poucos. Já posso dizer que vc ao lado de tantos outros é uma das minhas poetisa preferida. Um xero junino, carrega de Santos fortes.
ResponderExcluirZidi, querida. Você bem sabe como é fonte de inspiração para mim. Agradeço tanto por tê-la como amiga/irmã...
ExcluirUma felicidade para a qual vc contribui enormemente, né, Mara?
ResponderExcluirQue lindeza Vera! Você escreve suas emoções e nos emociona!
ResponderExcluirohhh, Guiomar, que bom. o mundo tá tão carente de sensibilidade, ne?
ExcluirOh, Vera querida! Quanta lindeza!! A vontade que da é que esse enlevo nunca nos abandone!! Sim! que ele nunca nos abandone!
ResponderExcluirTorço por isso também!
ResponderExcluirMaravilha de xaxado, gingado de palavras e afetos.
ResponderExcluirAdorei saber mais sobre o forró. Depois de ler teu texto quero dançar. Graziela Brum
ResponderExcluirAmei cada trecho, relembrando músicas antigas e citando Fala Mansa que com seu ritmo não deixa ninguém parado. Eu como
ResponderExcluirNordestina raiz amo o forró, o xote e o baião. Aqui em Sergipe temos duas bandas maravilhosas, a CALCINHA PRETA e a melhor de todas que para mim é a XOTE E BAIÃO, não perco um show deles!