UM NÃO QUE ERA SIM?
Ainda lembro bem. De mãos dadas e usando mortalha iguais, seguíamos uma banda no bloco. Quando passamos na frente do clube mais antigo da nossa cidade, encabulada, rompi o silêncio e disse: “Hoje é meu aniversário”, ao que ele respondeu: “É o meu também”. Descobri que não mentia, décadas depois, quando me enviaram o link do seu perfil no facebook. Em algumas fotos antigas era exatamente como eu o conhecera: bonito, de cabelos longos.
Como sou uma nostálgica e romântica inveterada, sempre cultivei as lembranças daquele primeiro amor que foi totalmente platônico. Além das mãos, a maior intimidade que tivemos foi no dia em que eu andava de bicicleta próximo à sua casa, seus amigos seguraram a minha bicicleta, ele me deu um beijo no rosto e saiu correndo. Fora isso, eram sempre danças em carnavais ou festas de réveillon em que, calados, brincávamos no salão circular ao som de marchas de carnaval. No final, ele sempre me pedia em namoro e, como de era posto na moral social para as moças direitas da época, eu dizia que iria pensar. Eu bem sabia que a minha resposta compulsoriamente seria um NÃO, mas durante o intervalo solicitado para pensar, gostava de sonhar que poderia ser um SIM. Um SIM que os meus pais jamais permitiriam, claro.
A paixão entre nós era conhecida
na cidade. Lembro de uma conversa entre meu pai e cerca de oito amigos na sala de nossa casa, em que
me diziam: com o filho de (nome do pai dele), não.Você pode namorar com o filho de Fulano
ou Beltrano, ambos, obviamente, amigos do meu pai e presentes na sala. A mim restava apenas ouvir. Só a perplexidade com os comentários era diferente naquele meu hábito de só ouvir.
A tecnologia foi tornando cada
vez mais fácil uma comunicação entre nós. E eu confesso que gostaria de lhe
perguntar sobre o que foi para ele aquela experiência tão ingênua, de talvez rirmos juntos dos
costumes da época etc. Tenho uma curiosidade de saber como o outro me via, que
impressão tinha da minha realidade, como interpretava o meu comportamento... Talvez
isso se dê só por uma necessidade de conhecer o meu passado para melhor
compreender a argamassa que compõe as paredes que dão sustentação àquilo que
sou hoje. Há muito sei que aquela pessoa não combinava com o ideal de companhia
que, já naquela época, eu queria para mim. Mas ainda acho estranho não ser possível sequer uma conversa amigável, com uma
pessoa que por anos foi o motivo dos meus suspiros juvenis.
Agora que ele já não tem cabelos e eu já não chamo a atenção, quando entro no salão, as novas tecnologias me permitem constatar que nos tornamos seres totalmente antagônicos em termos de valores e visão de mundo. E eu me pergunto em que circuito da festa momesca, o que foi paixão se tornou apenas serpentina no chão e suponho que aquele “NÃO” era mesmo para ser “NÃO”.
Fiquei curioso para saber quem é.... Rssss.
ResponderExcluirAí vc já tá querendo saber demais!
ExcluirAdorei!
ResponderExcluirOi, quem é? Aqui aparece como anônimo. De todo modo, fico feliz que tenha gostado.
ExcluirVocê, como sempre, escreve textos que inspiram o leitor a fazer uma viagem no tempo...Doces recordações, amei!!
ResponderExcluirOi, quem é? Pra mim apece "anônimo". De todo modo,, que bom que gostou.
ExcluirAdorei essa crônica! Eu me vi na personagem! Parabéns Veroca! Você é uma vera escritora.
ResponderExcluirOi, quem é? Pra mim apece "anônimo". Nem todos me chamam de Veroca, mas ainda são muitos...De todo modo, que bom que gostou.
ExcluirVera, adoro tudo q vc escreve bjs
ResponderExcluirOi, quem é? Pra mim aparece "anônimo". De todo modo,, que bom que gostou.
ExcluirQue delícia de texto! Faz sentir como se fosse nossa memória!
ResponderExcluirLuzia, que bom que gostou e, mais do que isso, que nos reencontramos. Bjs querida
ExcluirLinda menina, não era São João mas vejo que saltastes uma fogueira que só teria reduzido poesia a cinzas. O não muitas vezes nos salva. Ah! Texto lindo de ler ❤️
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