Em seu poema “O tempo” , Drummond escreveu:
“Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança,
fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar
e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação
e tudo começa outra vez, com outro número
e outra vontade de acreditar
que daqui para diante tudo vai ser diferente.(...)”
O que fazemos para nos embriagar com a ideia de que viveremos um Novíssimo Ano? Depois de nos vestirmos com roupas brancas e novas,
(algumas mulheres até usam peças íntimas com a dita cor do ano) vamos a uma festa
com um grande número de pessoas, música e comida, damos pulos no mar e nos
agarramos a alguns amuletos que nos assegurem grandes esperanças.
A mim, o Reveillon não entusiasma, mas já foi uma data na qual eu fiz quase tudo isso. Até o dia em que, com cerca de vinte anos, antes da
virada, me dei conta de que não desejaria abraçar a maioria das pessoas da festa
e saí correndo dela. Não deu tempo de chegar em casa e o relógio marcou a meia
noite enquanto eu estava em um taxi tendo seu motorista como única companhia.
Ao menos não precisei abraçá-lo por mera convenção. Talvez nos tenhamos desejado
um Feliz Ano Novo. Não me lembro se isso se deu, mas mantenho a determinação de
fugir desses encontros festivos em que um grande número de pessoas
desconhecidas se reúnem em uma alegria artificial. No entanto, isso não significa que o
Ano Novo não possa ser festejado. Em trecho do poema “Passagem do ano”, o
próprio Drummond sugere um modo de fazê-lo:
“Recebe com simplicidade este presente do acaso.
Mereceste viver mais um ano.
Desejarias viver sempre e esgotar a borra dos séculos.
Teu pai morreu, teu avô também.
Em ti mesmo muita coisa já se espirou, outras espreitam
a morte,
Mas estás vivo. Ainda uma vez estás vivo,
E de copo na mão
Esperas amanhecer”.
Adorei, Vera querida. Assino embaixo. Tudo a ver comigo também. Menos é mais.
ResponderExcluirOlá Veroca, comigo é bem por aí. Decidimos comemorar/passar somente entre três pessoas, incluindo eu. Tempo dr pausa, descanso,reflexão, de cuidar e ser cuidado. Mas isso não significa que não vai ter festa. Vai ter sim, grande, boa, bonita, onde nossos corpos,espirito e alma estarão alegres e em paz.
ResponderExcluirJá passei virada de ano trancado no bagageiro do carro pra não participar da alegria momentânea e cínica.
ResponderExcluirJá passei dentro do busu que não chegou a tempo no local da comemoração.
Já passei num engarrafamento monstruoso...
Uma data simbólica, que hoje também a mim não faz tanto sentido.
Adorei!!!
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