sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

POESIAS PARA 4 MENINAS DE TODAS AS IDADES

Dalva é minha amiga desde a juventude. Era a melhor amiga de Williane, minha colega desde o ginásio e com quem morei por alguns anos. Fui vizinha de Dalva quando ela, Álvaro e seus filhos moravam em um condomínio em frente a mim em Stella Maris e tive o prazer de partilhar sua amorosidade, força e alegria. Muitas coisas mudaram... ela não mora na Bahia, mas não deixa de vir ver seus parentes e amigos assim que pode. Na festa dos seus quinze, ops, 50 anos, lhe presenteei falando uma poesia de Martha Medeiros. Neste sábado, ela comemorará seus 55 anos, junto com os 50 de Lídia, sua irma, os 75 de sua mãe e o batizado de sua netinha Júlia. Fui intimada a ir e falar poesia nesse grande momento de alegria familiar, Infelizmente, tenho viagem marcada para a manhã desse mesmo dia. Assim, escrevo abaixo as poesias que pensei apresentar Para as 4 meninas:



CANÇÃO 



DO 



EXÍLIO 



FACILITADA
                                     José Paulo Paes



lá?
ah!



sabiá…
papá…
maná…
sofá...
  
sinhá…

cá?              

bah!

CINDERELA
Adélia Prado

Estou alegre e o motivo
beira secretamente à humilhação, 
porque aos 50 (ou 55 ) anos
não posso mais fazer curso de dança,
escolher profissão,
aprender a nadar como se deve.
No entanto, não sei se é por causa das águas,
deste ar que desentoca do chão as formigas aladas,
ou se é por causa dele que volta 
e põe tudo arcaico, como a matéria da alma, 
se você vai ao pasto,
se você olha o céu,
aquelas frutinhas travosas,
aquela estrelinha nova,
sabe que nada mudou.
O pai está vivo e tosse,
a mãe pragueja sem raiva na cozinha.
Assim que escurecer vou namorar.
Que mundo ordenado e bom!
Namorar quem?
Minha alma nasceu desposada
com um marido invisível.
Quando ele fala roreja
quando ele vem eu sei,
porque as hastes se inclinam.
Eu fico tão atenta que adormeço 
a cada ano mais. 
Sob juramento lhes digo: 
tenho 18 anos. Incompletos.

Antibélica
                           Elisa Lucinda

Fazia roupinhas de boneca, meu Deus, 
Tão linda que ela era! 
Tão linda... 
os vestidinhos, bem feitos e muito bem 
acabadinhos 
por dentro e por fora, 
eram arte. 
Eu disse, como você é linda fazendo estas 
roupinhas de boneca! Linda! 
Ela me olhou doce e de dentro dos olhos 
de seus sessenta e cinco anos 
saltou a menina de oito pra me dizer 
singela:
é só tirar o modelo. 
Senti amor pela senhora e pela pequena. 
Ah, tem gente que é poema!


BERÇÁRIO
Eliana Mara Chiossi
Dizem que sou filha de Deus. 
Acho que fui adotada. 
Deus me criou porque encontrou uma cesta na frente da sua casa 
e não ficaria bem, para um Deus, 
deixar aquela menina gulosa berrando. 
Dizem que sou a imagem e semelhança de Deus. 
Acho que fui adotada. 

Deus pariu uma menina
e no hospital trocaram as etiquetas de identificação.
Deus me viu crescendo, me olhava sempre com o olhar perplexo:
 de onde será que veio essa menina estranha, 
que não se parece comigo? 

Dizem que Deus é amor.
Então, sou filha de Deus. 
Porque ainda quando tremo,
 ainda que os inimigos cuspam na minha face branda,
 ainda que haja dias em que a vida pouco me interessa, 
eu sou amor também. 

Mas Deus perdoa, 
Deus tolera, 
Deus compreende, 
Deus tolera,
Deus tem uma paciência de Jó.
Acho que fui adotada.



Desejo às 4 mulheres cujas vidas serão festejadas amanhã, 4 de janeiro, que nunca lhes falte a consciência de que vieram ao mundo para se construírem, a cada dia, a imagem e semelhança de Deus.

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