domingo, 4 de setembro de 2011

ABRIGO NUCLEAR BOA NOVA


Consta que perguntado sobre como seria a 3ª. Guerra Mundial, Albert Einstein respondera: “Não sei como será a Terceira Guerra Mundial, mas poderei vos dizer como será a Quarta: com paus e pedras...”, compartilhando conosco a consciência que já possuía quanto ao potencial bélico criado pelo homem e a sua capacidade de destruição em massa. Vale lembrar que depois da morte do criador da Lei da Relatividade, o desenvolvimento dessas armas continuou acontecendo a um ritmo cada vez mais próximo da velocidade da luz. Para se ter uma ideia das novas armas, há um tipo de bomba H cujo poder de destruição é aproximadamente igual ao de 40 bombas de Hiroshima. É possível pesquisar alguns rankings sobre o poderio militar dos países, como o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz, que revelam serem os EUA o primeiro colocado da lista. O país gasta, sozinho, 1.531.000.000.000 de dólares ou quase tudo quanto os demais países aplicam no setor: 43% do total do mundo. Este montante é seis vezes mais do que a China gasta, seu mais próximo seguidor na obscura corrida. Infelizmente, o Brasil não fica no fim dessa vergonhosa lista. Segundo dados levantados pelo site Military Power Review, especializado em assuntos militares no mundo, o Brasil lidera o ranking do “Poder Militar” na América Latina. A despeito destes dados, e talvez tentando fugir dessas revelações, eu costumava dizer que, em caso de Terceira Guerra Mundial, me refugiaria em Boa Nova. Por mais que as pessoas rissem dessa minha declaração, eu mantinha a promessa de buscar abrigo na pequena cidade do sudoeste da Bahia, imaginando que lá isolada, no mínimo, ganharia algum tempo até que essas armas destruíssem todo o planeta.

Foi um choque assistir pela televisão a revelação de que Boa Nova está longe de ser um local pacato e seguro. A exemplo do que tem acontecido em várias cidades do interior da Bahia, no dia 29 de agosto, foi a vez de Boa Nova sofrer um grande episódio de violência. O 37º caso deste ano de assalto a banco desse tipo, no estado, se destacou pela intensidade e rapidez da ação. Em cerca de 15 minutos, depois de atear fogo em um caminhão para bloquear o acesso à BR116, homens encapuzados e fortemente armados entraram atirando na cidade com 2 carros, fizeram dois policiais e o gerente do banco de reféns e ainda puseram fogo em carros para obstruir a passagem da ponte sobre o Rio Uruba, dificultando a ação da polícia. Se, a 450km de distância, fiquei estarrecida com as cenas projetadas, imagino a sensação que elas causaram aos habitantes da cidade, cujo sentimento de insegurança foi possivelmente agravado após a passagem de um grande contingente de policiais seguidos por um helicóptero, que resultou em fracasso na captura de 11 dos 12 criminosos.

A consciência do absurdo aparato militar mundial com iminência de uso, a inevitável certeza de que não há lugar na terra onde possamos estar imunes à extrema violência e até a convivência com atos cotidianos violentos não devem, no entanto, ser o foco das lentes com as quais escolhemos enquadrar a nossa realidade. Nesse sentido, talvez possamos fazer um contraponto à tendência da mídia em geral de dar ênfase a notícias violentas (com programas em que, ao meio dia, o expectador é convidado a assistir a cenas sanguinolentas), através de um esforço em nos concentrar em aspectos positivos da realidade, na intenção de reverberar boas energias. Assim, vale a tentativa de valorizar os bons acontecimentos locais, associando Boa Nova, não ao assalto tão propalado, mas às suas manifestações culturais, ao redescobrimento do gravatazeiro e à criação do Parque Nacional, para que fiquem “guardados” na memória da população local e de seus visitantes, as notícias dadas com menor estardalhaço, repetição e intensidade.


Um comentário:

  1. Veroca queridíssima,

    Chocante o que aconteceu em Boa Nova. Isso que você disse: que se refugiaria lá, quando o mundo desse sinais de colapso, eu sentia o mesmo em relação a um lugarejo de praia, próximo a Santo Amaro, onde nasceu minha madrinha. É uma vila de pescadores chamada Itapema. E eis que um dia, vendo o telejornal, recebi a notícia de que uma mortandade de peixes acontecia lá.

    Havia especulações relativas à causa desta perda, e tudo indicava que tinha a ver com a forma como nos relacionamos com a natureza. Bom, escrevo isso para me solidarizar com sua constatação de que até os pontos mais "escondidos" do mundo estão vulneráveis.

    Mas, ao mesmo tempo, quero, como você, sempre me segurar na emoção que causa uma rua ensolarada com bandeirolas e uma criança de blusa branca e vermelha olhando para uma formiga, talvez. Imagens como esta merecem adesão.

    Gostei do entrelaçamento que você construiu no texto, introduzindo-o com uma fala de Einstein, para discorrer sobre o assunto que você comunicou.

    E que haja mais ruas ensolaradas com crianças brincando, amiga querida.

    Beijocas,
    Sarah

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