"Tire as construções de minha praia, não consigo respirar.
As meninas de mini saia, não conseguem respirar
Especulação imobiliária e o petróleo em alto mar..."
(Lucro – Baiana System)
A luta contra o progresso desmedido, sem planejamento e
análise dos impactos econômicos, sociais, culturais e tendo como critério a sustentabilidade
não é nova e a questão está longe de ser resumida na dicotomia entre progresso
e estagnação, entre o urbano progressista e o rural bucólico e atrasado.
Trata-se de uma batalha que vale a pena ser travada se os adversários são o PROGRESSO
DESMEDIDO e o PROGRESSO RESPONSÁVEL. De fato, o que está em disputa é o crescer
desordenadamente e o crescer de modo planejado, considerando os interesses de
todas as camadas da população, minimizando os impactos ambientais etc. É essa a
questão que está em voga em várias situações contemporâneas. No Brasil de hoje,
ela é um fator de fundo quando analisamos as catástrofes no Rio Grande do Sul e
está em voga quando a maior parte da população brasileira se manifesta contra a
Proposta de Emenda Constitucional que permite o uso de nossas praia.
Em Salvador eu a observo principalmente na questão da
mobilidade urbana e no uso do solo. Ao problema dos enorme engarrafamentos na
cidade, os órgãos responsáveis têm respondido com viadutos por toda parte,
muitas vezes construídos sobre a destruição de lindas áreas verdes. Está também
demonstrada a opção de modelos de transporte ultrapassados trafegando
em trechos já contemplados por outras 1possibilidades de deslocamento, a
exemplo do BRT. Lembro-me bem que na campanha eleitoral para prefeito da
cidade, o candidato Hilton Coelho (PSOL) enfatizava que o GLT era mais moderno
e mais indicado do que o BRT para implementação na cidade. Mas o que vimos foi
o BRT sendo implantado depois de anos dessa discussão, portanto com tecnologia
ainda mais defasada, em local onde havia árvores centenárias, em um trajeto já
percorrido por ônibus convencionais e pelo metrô, menos poluidor e mais rápido.
Já ao problema do crescimento urbano, desde que o gabarito
de construção foi modificado (mudança no PDDU), quando João Henrique Carneiro
era prefeito, os arranha-céus estão pululando como pústulas de sarampo na pele
de crianças não vacinadas. Moro em um bairro que era caracterizado por moradias
horizontais, no qual não existia um só prédio de dois andares. Hoje estamos
cercados por edifícios com cerca de vinte andares, alguns deles se denominando
bairro, como o Green Ville que de “green” e de “ville” não tem nada. A
hipocrisia no modus operandi das empreiteiras é tão grande que têm o displante
de utilizar nomes da flora e da fauna nos prédios e grupos de construções que
foram construídas nos lugares onde antes havia justamente inúmeras espécies da
flora e da fauna! Exemplo muito marcante disso foi o que transformou o Horto
Florestal da Cidade do Salvador no famoso bairro “Cidade Jardim”, onde impera o
concreto e foi tão mal dimensionados que se um morados faz uma festa, ninguém
pode visitar alguém dos prédios vizinhos porque a rua vira um grande
engarrafamento e não há vagas para nela estacionar. Recentemente e igualmente
grave foi que escavaram o morro logo abaixo da Cidade Jardim só para
construírem mais um dos “trocentos” supermercados Hiper Ideal. Afinal, tudo depende
de quem está a fazer. Do poder político e aquisitivo do proponente. Não é
mesmo?
Mas a grande e pior das novidades não é só que esses
edifícios estão sendo cornstruídos em frente ao mar, em um projeto de tornar nossa
orla igual a Copacabana, na qual não corre nenhuma brisa, é que começaram a
construir no canteiro entre as duas pistas da orla, entre as pistas da Avenida Otávio
Mangabeira! Cada dia que passo por lá, vou contando quantos andares já foram
construídos em um deles. Comecei achando que eram 3, mas já ultrapassam 6!
Mais um exemplo que destaco é o que está prestes a acontecer na Praia do Buracão, no Rio Vermelho:
Projeção de sombras que incidiriam sobre a Praia do Buracão caso sejam construídas as três torres planejadas pela Novonor (antiga Odebrecht) no Rio Vermelho, em Salvador; doutora em química contra o projeto alerta para o risco às correntes marítimas e à ventilação da cidade — Foto: Ilustração do arquiteto Daniel Pessoa a partir de detalhes do projeto/Movimento SOS (portal Globo)
Há alguns dias, ouvi a fala do deputado Alceu Moreira, (pasmem) DO RIO GRANDE DO SUL, que teve a
brilhante ideia de pôr em votação na Câmara essa Proposta de Emenda
Constitucional denominada popularmente de PEC das PRAIAS. Vale escutar o áudio, porque
ele nem disfarça que o objetivo é liberar as praias pra especulação
imobiliária! Por que será que, entre
todos os problemas do país e, especialmente, aqueles gravíssimos do RS, essa
"ilustre excelência" está tão preocupado com isso? Matéria publicada
no UOL relara a lista de oito senadores e um governador a serem beneficiados
pela sua aprovação e que há ainda 116 vereadores, 65 prefeitos, 41 deputados
estaduais e 31 federais, 31 vice-prefeitos e 2 vice-governadores. Também podem
ser favorecidos pela eventual mudança na legislação empresas do setor
imobiliário, da agricultura e empresários que possuem imóveis nos chamados
terrenos de marinha, que pertencem à União.
Só faltou que o deputado Alceu encerrasse sua fala com a
seguinte frase:
"Vamos aproveitar que está todo mundo ligado nessa
tragédia e passar a boiada dos arranha-céus!”
Hotel Tambaú, uma construção particular na praia de João Pessoa, feita em 1970 para uso privado.Essa luta é muito antiga, mas continuamos como estacas de braços dados, impedindo a boiada de passar