quinta-feira, 23 de maio de 2024

EU E VERY IMPORTANT PEOPLE

Nessa que foi a minha última viagem, tive a experiência de ir para uma SALA VIP no Aeroporto de Congonhas, a convite de uma das pessoas que viajaram comigo. Sempre detestei essa sigla VIP e me perguntava o proquê de haver pessoas muito importantes, designação que ers agravada pela constatação de que isso era um marcador de classe social. O fato é que no Brasil da pandemia, o número de pessoas desimportantes, que sempre foi enorme nesse país estremamente perverso e desigual, foi aumentando vertiginosamente (de 2019 a 2022, o IDB diminuiu 3 pontos, passando o país para a 89a. posição). Nunca perguntei nem havia parado muito para pensar como seria uma sala VIP. Só achava que teria cadeiras mais afastadas e confortáveis. Ontem eu descobri que não era apenas isso. Não foram só cadeiras o que vi. Havia vários salgadinhos, diferentes tipos de bolo e biscoitos,  máquina de café, capuccino etc, geladeira com cerveja, refrigerante, água e vinho e banheiros exclusivos em um ambiente refrigerado.E pelo que me informaram, essa não era uma sala tão VIP assim. Outras são muito melhores!

O que faz com que os bancos brasileiros invistam dinheiro em montar esses espaços? Certamente tem relação com seus lucros, que estão entre os maiores do mundo! O que se dá na mente de alguns brasileiros que os faz terem a necessidade de se sentirem mais importantes nos aeroportos e em todos os lugares do país? É a herança escravrocata? O fato de termos um dos piores IDH do mundo? Não sei quando surgiram as primeira salas VIPs, mas tenho um palpite de que isso aconteceu depois que as companhia enxugaram seus serviços e preços e pessoas de estratos inferiores da sociedade passaram a ter a possibilidade de entrar em um avião. Foi isso que tanto indignou o ex-ministro Sr. Paulo Guedes, que expressou esse pensamento na sua famosa frase "Empregada doméstica indo para Disneylândia, uma festa danada!"

É muito triste acompanhar o empobrecimento de cidadãos brasileiros. Há alguns anos, quando eu voltava do trabalho, sempre encontrava um homem vendendo alguma fruta na sinaleira.Á medida que o tempo foi passando, a sua aparência foi ficando cada vez mais esquálida e sua roupa mais folgada e suja. Até que um dia eu o encontrei em um outro semáforo. Nesse dia não mais vendendo limões, mas pedindo esmolas...

Outros exemplos se deram na Boca do Rio. Eu sempre ia a um relojoeiro que tinha uma pequena loja na calçada da rua principal do fim de linha do bairro. Além de trabalhar muito bem, ele tinha um ótimo atendimento. Depois de um tempo, ele se transferiu para uma sala um andar acima, bem menor do que a anterior. Obviamente concluí que já não podia pagar o aluguel da sala anteior. Até que ao procurá-lo depois da pandemia, soube que ele tinha fechado a loja. Na semana passada perguntei a um camelô, que também conserta relógios, o qual me disse que ele havia morrido. Esse não foi o único caso que chamou a minha atenção. Na calçada dessa mesma rua, havia uma papelaria que foi reduzida à metade. Por quanto tempo ela resistirá, não sei dizer.  

Tem sido quase sempre assim, exceto quando há políticas sociais que visam diminuir a pobreza. No entanto, o montante que setores como o agronegócio recebem de subsídios poderia e deveria ser usado para diminuir a enorme distância que separa aqueles considerados VIPs dos simples mortais. Não vou, hipocritamente, dizer que não gostei de ter aquelas mordomias ao meu dispor. No entanto, a equação do meu desejo não inclui a variável "Só eu posso ter".

domingo, 12 de maio de 2024

COMO SER OU NÃO SER MÃE

 Amigas, boa madrugada.

Fiquei contente ao notar que provavelmente serei a primeira pessoa a lhes desejar um feliz dia das mães... 

Sabem, na autobiografia de Jane Fonda - cuja leitura eu recomendo - ela diz que a lição mais difícil e importante que, se quisermos, precisaremos aprender é a de educar noss@s filh@s, No entanto, para preparar para tirar boa nota nessa tarefa tão complicada não há cursos...

Em todos os segundos domingos de maio, eu me ponho a refletir sobre o quanto ser mãe é desafiador e como, nessa sociedade machista,  o ato de ser mãe se impõe como um desafio bem maior do que aquele de ser pai. São vários os exemplos dessa assimetria entre as expectativas em relação a ser mãe e a ser pai. Começa que, ao contrário do que acontece com as mulheres, ninguém questiona se o homem decide não ser pai (se ele resolve ficar solteiro,  passa a ser visto como "o tal"/ "o que não quis mulher nenhuma ", enquanto ela é considerada  "a rejeitada").  Mais do que sabermos, vivemos essas situações díspares rotineiramente. Porém, importa saber: com  que base nos lançamos nessa aventura tão complexa que é ser mãe dentro desse ambiente patriarcal. Penso que o fazemos tendo por base não só os acertos, mas também os erros das nossas próprias mães. É a partir da vivência como filhas que decidimos se queremos ser mães e que tipo de mãe queremos ser. A minha mãe se foi nesse ano e tive o consolo de me lembrar de várias  vezes lhe ter dito: 

- Minha mãe, você foi uma mãe melhor do que a sua,  eu sou uma melhor mãe do que você e tenho a certeza de que minha filha será uma mãe bem melhor do que eu".  Acredito nisso: que a vida só vale a pena se conseguimos nos ver como setas que não atingem a mira, mas não deixam de se lançar, de voar buscando  se aproximar dela. Muitas vezes vacilantes, caminhamos para dar passos mais leves, e ainda assim, firmes, visando ser e fazer melhor.

Por tudo isso, nesse ano não lhes envio uma das mensagens de praxe com flores e corações, nas quais se diz que só temos virtudes e sempre acertamos no modo como orientaram @s noss@s filh@s. Ao contrário,  envio os links de um áudio com Inezita Barroso cantando a música "Mãe é dureza", do texto com o poema "Vigílias das mães" de Cecília Meireles e de um vídeo em que Elisa Lucinda  recita a sua poesia "Chupetas, Punhetas, Guitarras" e um áudio do meu canal VIVERDEPOESIA no qual recito esse mesmo poema, pois todos eles observam a maternidade sobre outros pontos de vista. Desse modo, desejo que os recebam como o perfume de um buquê de jasmim aos sentidos e como a paz aos corações. 


                                                                                                             Vera Passos