Nasci de um homem muito machista casado com uma mulher de 18 anos, 13 anos mais jovem do que ela. A minha mãe era uma mulher muito forte e, em alguns assuntos, à frente do seu tempo. Essa mulher, ficou viúva com 35 anos, mas o machismo estava tão internalizado nela que consentiu que ele limitasse o seu futuro: não se permitiu viver uma nova relação, continuar os estudos e constituir uma carreira, usar roupas decotadas etc. Sei que era uma feminista, sem se permitir ser, porque aprendeu a dirigir sozinha, fotografava sem ter tido um curso e me levou ao único psicólogo da cidade para que eu fizesse terapia quando começamos a ter atrito na minha adolescência etc. Meu pai tinha poucos recursos financeiros e ela era uma herdeira de fazenda e outros bens, e, embora contrariada, deixou que ele administrasse os seus bens como bem quis. A frase que demonstrava a sua ânsia de liberdade, sua sede de ocupar um lugar no mundo menos subjugado, jamais esqueci: “Vá estudar pra não depender de homem!” Está aí o gérmen que brotou em mim o desejo de educar os meus filhos para que contribuíssem para um mundo mais igualitários entre os gêneros.
Comecei desejando que fosse uma filha a primeira criança que
eu poria no mundo, não só porque ela teria uma maior atenção de todos da
família, mas também porque temia que sendo um filho, ele se sentisse no direito
de controlar a irmã. O universo não quis facilitar as coisas para mim. Tive um
filho e só depois, uma menina. O que fiz para que ao menos a minha família não fosse
uma réplica do poder dos homens sobre mulheres? Talvez o tenha feito mais por
atitudes inconscientes do que conscientes e o maior exemplo deve ter sido a
relação de respeito que eles compartilhavam com os seus pais. Eles têm conhecimento
de que antes de o conhecer, morei sozinha desde os 18 anos, era motociclista,
viajava sozinha etc. Além disso, sabem que era 5 anos mais velha do que ele, que
dirigi antes dele, que já tinha vida sexual quando o conheci, que tomei a
iniciativa do namoro, que mantive contato com os meus amigos e alguns
ex-namorados, que o pedi em casamento depois de 25 anos de relacionamento, que
jamais permiti que ele controlasse as minhas iniciativa ou desse palpite na
minhas roupas, que manifesto tudo o que me desagrada na relação, que dividimos
as despesas, que conversamos e decidimos conjuntamente todas as coisa relativas
à família, que nos admiramos, nos encorajamos e partilhamos projetos e sonhos.
Entre as conscientes, destaco:
Não permitimos que seu irmão a desrespeitasse;
Validamos igualmente a fala e os sentimentos dos dois;
Damos suporte aos planos e anseios de ambos;
Começamos a dar mesadas a ambos desde cedo para que aprendessem a administrar algum recurso financeiro;
Requisitamos ambos a assumirem as responsabilidades pelas tarefas domésticas;
Permitimos que ela trouxesse seu namorado para dormir em seu quarto, do mesmo modo que fizemos
quando ele quis trazer a namorada;