sábado, 17 de agosto de 2024
HEI, VOCÊ AÍ! ME DÁ UM DINHEIRO AÍ!
Então eu lhe respondi na bucha: "NADA!”. Foi anteontem isso. Eu estava na sinaleira que fica na esquina da agência Mercês da CEF na saída do Orixás Center e entrada da Av. Sete, quando um morador de rua me perguntou agressivamente: “O que você vai me dar para eu comer?” Felizmente, o sinal abriu logo e fui embora satisfeita tanto por ter sustentado a minha resposta, quanto por não ter recebido um tapa na cara. Mas, Vera, é na sinaleira e com uma pessoa numa situação de pedinte que você deve testar a sua capacidade de dizer "não"? Mesmo se você é tratada com rispidez? Essa resposta também é: "NÃO"!
Mas a questão é por demais polêmica: Devo ou não devo dar esmolas? E a pergunta me é feita reiteradas vezes durante cada santo dia ... a cada novo semáforo tenho que me perguntar qual a melhor forma de lidar com mais esse subproduto da perversa desigualdade social do nosso país. E são tantas as implicações da minha decisão... Tenho que enfrentar a expressão de ódio, quando digo não, a raiva se o valor que dou não é considerado suficiente para quem recebe, corro o risco de ser assaltada, como já fui várias vezes e até temo receber um insulto se o que ofereço não é dinheiro. Sim, há cerca de 30 anos achei ter resolvido o problema, quando passei a carregar uma vasilha plástica com biscoitos no porta-luvas do carro. Dando algo para a pessoa comer, não correria o risco dela estar usando o trocado que lhe dei para drogas lícitas ou ilícitas. Como não fui capaz de sustentar as reações de quem não queria nada além de dinheiro, aposentei a vasilha.
Segundo o IBGE, em 2021 houve um aumento de 14,7% no número de moradores de rua em relação ao ano anterior e o total registrado - que certamente é bem menor do que o número real - passou a ser de 222 mil pessoas! O site da SPINVISÍVEL destaca o quanto a situação de rua é complexa e multifacetada e aponta 5 causas que levam as pessoas a serem moradores de rua. Sâo elas: desemprego, conflitos familiares, uso abusivo de drogas, problemas de saúde mental e desigualdade social. Além do item, desigualdade social, considero que três outras causas estão associadas à falta de políticas sociais e consequente desigualdade social. O Estado deveria garantir não só emprego a todos os cidadãos, mas também assistência plena aos usuários de drogas e a portadores de distúrbios psíquicos. Em última análise, até os conflitos familiares podem ter raízes na desigualdade social e suas infinitas facetas.
Abrir o vidro do carro para dar qualquer coisa que seja é muito complicado numa cidade violenta como Salvador, especialmente para uma mulher. Há 18 anos, no caminho para levar meu filho e dois colegas para a escola bem cedinho, resolvi comprar um jornal ATARDE na mão de um rapaz que usava um colete com o emblema desse veículo de imprensa. Ele me entregou o exemplar do jornal e, quando fui pegar o dinheiro na carteira, vendo uma nota de R$50,00, ele enfiou a mão pra apanhá-la e ficamos os dois puxando a carteira até que o sinal abriu e ele saiu correndo com ela. Fui sim, denunciar na sede do Jornal ATARDE, mas eles agiram como se nenhuma responsabilidade tivessem sobre quem está uniformizado trabalhando na venda de seu produto. Noutra situação acontecida nos anos 80, alguém falou algo próximo à janela traseira do carro que minha mãe dirigia, eu abri um pouco o vidro e o rapaz me mostrou um caco de vidro sujo, dizendo ser aidético e ameaçando me cortar. Por sorte, o sinal abriu e minha mãe, que não sabia o que estava se passando, arrastou o carro. Esses são apenas dois dos casos perigosos que vivi por abrir o vidro do carro, tentando ajudar quem está junto a mim, naquela situação de vulnerabilidade e desamparo. Sei bem que, como uma cidadã classe média, não sou eu a maior responsável pela miséria em meu país, no entanto, queria poder fazer algo a mais para minimizá-la. Algo além de doações para a TETO BRASIL, a AÇÃO DA CIDADANIA e MÉDICO SEM FRONTEIRAS. A pobreza bate à minha janela. A pobreza me horroriza, me deixa indignada, ativa o seu senso se solidariedade, mas eu nem sei se abro para ela.
sábado, 10 de agosto de 2024
SÓ NOS RESTA ACOMPANHAR?
Anteontem, o costumeiro engarrafamento que me retarda a ida a qualquer lugar em diração ao centro da cidade, me fez constatar, consternada, que o edificio que está sendo construído no canteiro entre as duas pistas da orla, na av. Otávio Mangabeira, continua crescendo. No dia 13 de junho, fiz uma postagem aqui nesse blog no link , denunciando essa construção que vai/está obstruindo a vista do mar, impedindo a circulação da brisa marinha etc. À época a construção tinha um número de andares que era a metade do que tem hoje, ainda inacabada:
EM 13/06/24
EM 07/08/24
Como escreveu o poeta Valater Hugo Mãe (sim, ele não é só romancista, já gravei um lindo poema desse portguês e ele foi transformado em vídeo por José Mamede e está disponível no meu perfil no insta: @verapassoscoqueiro), o capitalismo é uma fábrica de fazer espanhóis, na verdade é também de fazer a maioria dos brasileiros, uma fábrica de gerar miséria, de constuir feiuras, de acinzentar os nosso dias...
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