Se substituída por um sinônimo, uma palavra nem sempre tem o
mesmo significado. Ele pode sugerir outro sentido, algumas nuances a mais,
mudar a intensidade, soar estranho etc. É isso o que acontece com “histeria”.
Qualquer busca, seja em dicionário físico ou virtual, vai te levar a sinônimos
como “nervosismo”, mas os exemplos serão quase todos no feminino. Quando você
escutou a frase: “Ele está histérico!”? Compare com a frequência com que ouviu
a mesma expressão associada às mulheres. E convenhamos, dizer que alguém está
nervoso não tem o mesmo peso que dizer que essa pessoa está histérica, não é
mesmo?
Na antiguidade, o termo “histeria” foi cunhado a partir da
palavra “útero” e em seu livro “Estudos sobre a histeria”, Freud apresenta os resultados
de estudos com 5 pacientes: Anna, Elisabeth, Emmy, Lucy e Katharina. O livro
foi publicado em 1895 e desde então, embora o conceito psicanalítico da
histeria tenha evoluído bastante, até hoje o adjetivo correspondente continua sendo
associado às mulheres. Por que isso se dá? Certamente não é só pelo
desconhecimento da evolução desses estudos, mas porque não houve tanta evolução
no modo como é avaliado e controlado o comportamento feminimo.
As mulheres não ficavam simplesmente nervosas, ficavam
histéricas. E sendo a histeria considerada uma patologia era fácil recorrer à
internação para conter seus comportamento e corpos considerados socialmente inapropriados.
Esse é o tema de projeto da poeta
Isabela Penov, aprovado pelo Itaú Cultural. Isabela fez uma pesquisa em arquivos
de manicômios brasileiros dos últimos 100 anos nos quais observou que os diagnósticos
e internações de mulheres eram feitos tendo como base os relatos de seus pais,
maridos e irmãos. O projeto incluiu uma live em que a psicanalista Monik
Sittoni discutiu a relação entre o feminino e a Psicanálise e outra de título “Mulheres
no Avesso da Razão” com as escritoras Micheliny Verunschk e Yonina Staseviska,
além de uma oficina de escrita com mulheres de várias cidades do país. Eu tive
a satisfação de partilhar a experiência com essas mulheres. Mulheres que têm em comum não só a experiência de sofrer o estigma da loucura feminina, mas também o uso da palavra como um remédio para suas dores. Os textos resultantes
da oficina estão reunidos no “Manual Prático de Desvarios”, disponível no link abaixo:
No dia 04/12/22, no Instituto Sarath, em São Paulo, Isabela
Penov fará o lançamento do livro "Compêndio para Moças de Olhares Lânguidos", resultado desse trabalho. Um programa
para quem não tem medo de encarar as irracionalidades
da nossa realidade e seu reflexo nos campos mais sutis como o das palavras.