BICICLETA
Mais de mês que meu nego viajou. A saudade pisava meu rosto,
mas não deixava que atrapalhasse a lida do dia. Arrastava as pernas de
toneladas: limpar a casa, lavar a roupa, fazer a comida que comia feito
passarinho...Tudo lento, amiudado.
À noite, ficava acordada, mantendo os seus olhos abertos.
Ciúmes do volante sob suas mãos.
Nas segundas, boca piu no braço com fruta, ovo e verdura, o
que dava para levar com os trocados que ainda tinha. E o povo da feira perguntando
por ele...
Na volta, uma saia amarrada, um toço na cabeça e um coração de
joelhos. O vento aliviou meu cansaço, empurrando a bicicleta.
Ouvi um grito:
- Ei, moça!
Me virei.
Ele, flecha de fogo em minha direção.