Há três anos, foi instituído o Setembro Amarelo como mês de prevenção ao suicídio. A iniciativa foi muito importante visto os tabus que envolvem os problemas de saúde mental e o suicídio. No entanto, nesse mês, tomei conhecimento de duas outras companhas sendo iniciadas em associação com setembro (uma sobre o câncer e outra sobre a doação de órgãos). Nada contra qualquer movimento em prol desses sérios problemas, mas a superposição de movimentos no mesmo mês enfraquece a campanha do Setembro Amarelo e reforça a minha convicção da pouca importância dada ou inconsciente desejo de esconder os portadores de distúrbios psicológicos. Isso é muito grave! Segundo a BBC* o suicídio entre jovens já mata mais do que o HIV e, no Brasil, esta é a 4a. maior causa de morte entre os jovens.
É natural que se tenha compaixão por quem passa por doenças tão graves quanto o câncer ou a Aids, mas a tolerância para distúrbios de comportamento é quase nula. Por esse motivo, tenho postado vários textos em que relato a minha experiência em ter perdido meu pai por suicídio e também possuir um diagnóstico de Transtorno Bipolar. É preciso esclarecer que é um diagnóstico diferenciado daquele de Depressão. Se a atitude em relação aos deprimidos varia entre a de indiferença ou pena. No transtorno bipolar, o paciente oscila entre estados de depressão e de euforia. Isto é ainda um agravante, porque se há uma tolerância àquele que se recusa a sair do quarto ou fica triste, choroso e calado em lugares públicos, é muito maior a rejeição aos que agitados, se exaltam e falam alto e irrefletidamente. Esses são considerados mal-educados, inconvenientes. Não há perdão para eles!
A título de exemplo, seguem alguns eposódios que vivenciei e demonstram o preconceito em relação aos portadores desses distúrbios psíquicos:
1. Eu estava na porta do ICEP - Instituto de Convivência Estudos e Pesquisa Nise da Silveira, clínica onde faço tratamento (terapia coletiva, individual e musicoterapia) e colocava objetos no porta-malas do carro, enquanto um homem conversava com um dos pacientes. Assim que o paciente saiu, essa pessoa me perguntou: "Você trata desses malucos?" De pronto, respondi: "Não, sou um deles!"
2. Estava em uma atividade do ICEP que envolvia pacientes e seus familiares (aula de culinária), quando a mãe de um dos pacientes, também nessa aula, me perguntou: "Você acompanha quem aqui?" Eu lhe respondi: "Eu mesma."
3. Mais de uma vez, em grupo de amigos, quando eles falavam criticando alguém, justificavam as supostas atitudes equivocadas dessas pessoas dizendo "Ah, mas ela é bipolar". Ao que eu respondia: "Eu também sou bipolar, lembram?
Pois é, em uma situação ou na outra, o olhar da maioria torna a doença nossa maior companhia.
Dados extraídos de:
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-39672513
http://www.a12.com/redacaoa12/brasil/suicidio-mata-mais-que-cancer-e-aids
https://super.abril.com.br/mundo-estranho/quantos-suicidios-acontecem-anualmente-no-mundo/
https://g1.globo.com/bemestar/noticia/numero-de-suicidios-subiu-11-entre-2011-e-2015-no-brasil-diz-ministerio-da-saude.ghtml
https://noticias.r7.com/saude/estavel-suicidio-entre-jovens-ainda-e-quarta-causa-de-morte-no-brasil-21052018