Costumava dizer que Vinícius era o único machista de quem eu gostava. Quando ele morreu, um dos irmãos Caruso publicou na revista Veja uma caricatura em que o Poetinha aparecia com asas. Eu copiei em tamanho ampliado esse desenho, fiz um poster e o tive por muito tempo na parede do meu apartamento de solteira. Há uns dois anos, Poética II foi a primeira poesia que aprendi a falar. Agora estou estudando Poética I que é um poema mais conhecido de Vinícius. O que me motivou a fazê-lo, não foi apenas a sua beleza nem a necessidade de completar o conjunto, mas a vontade de seguir seus ensinamentos. Transcrevi abaixo as poesias e informo o link para quem quiser ouvi-las na voz do próprio autor:
POÉTICA I
De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.
A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.
Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
- Meu tempo é quando.
POÉTICA
Com as lágrimas do tempo
E a cal do meu dia
Eu fiz o cimento
Da minha poesia.
E na perspectiva
Da vida futura
Ergui em carne viva
Sua arquitetura.
Não sei bem se é casa
Se é torre ou se é templo:
(Um templo sem Deus.)
Mas é grande e clara
Pertence ao seu tempo
- Entrai, irmãos meus!